Doc sobre as Paquitas termina fritura de Marlene Mattos
Histórias relatadas pelas ex-assistentes de Xuxa apontam abusos inaceitáveis hoje
"O que me impedia de matar a Marlene era o Código Penal". Essa é uma das declarações fortes da série documental sobre as Paquitas envolvendo Marlene Mattos. No caso, essa foi proferida por uma das produtoras do extinto "Xou da Xuxa", que ainda afirmou que a diretora merecia uma morte lenta. Obviamente, trata-se de uma força de expressão, mas a declaração mostra bem que a mágoa pela ex-chefe não é exclusividade de Xuxa, mas de bastante gente com quem trabalho.
Em "Pra Sempre Paquitas", disponibilizado pelo GloboPlay, não faltam histórias envolvendo Marlene. Algumas, de fato, são para lá de delicadas, caso do dia em que ela teria obrigado todas as assistentes de palco de Xuxa, ainda adolescentes, a ficarem sem roupa na sua frente para checar se estavam "gordas". A preocupação com o peso, aliás, parecia uma grande obsessão para a diretora, a ponto de ela tirar uma das paquitas do pôster de um filme por considerar que ela não estava "magra". Não são poucos os relatos de suspensão por semanas do trabalho para emagrecer. Até mesmo nas seletivas dos concursos, crianças têm de ouvir que precisam perder alguns quilos.
Entre outras histórias traumáticas, está o dia em que as paquitas foram comparadas a Xuxa, que era mais velha, e ouviram que estavam com aparência ruim, com cara de que "deram a noite toda". Uma delas chegou a ser chamada de "putinha". Ao ouvir isso, Xuxa conta às ex-assistentes que o mesmo ocorreu com ela. "No dia em que ela me chamou de 'puta', eu puxei ela pela camiseta com o cordão, a ponto de rasgar o tecido. Dei um soco na parede do lado do rosto dela. Mostrei a mão sagrando e disse que da próxima vez seria na sua cara", lembra.
Embora fortes, os relatos parecem também ter como objetivo expiar algo que foi segredo por muitos anos. E acabam por consolidar um processo de fritura da reputação de Marlene que começou em "Xuxa, o documentário". Há que se levar em consideração que nos anos 80 e 90 a diretora era uma das raras mulheres em cargos de comando num território extremamente machista. Precisava se impor, mas nada disso justifica tratar mal crianças e adolescentes que tinham carga de trabalho de adulto - e iam mal no colégio por causa disso.
Marlene negou boa parte destas histórias quando questionada por Xuxa na série anterior, mas parece unânime entre as paquitas que todas tinham casos tristes. E uma carta enviada a elas e assinada pela própria diretora mostra bem o tom utilizado por ela. Hoje, relações como essas, dificilmente existiriam sem acabar na Justiça.
No que diz respeito a produção, o documentário das Paquitas é superior ao de Xuxa. Mostra defeitos da Rainha dos Baixinhos - que assume seu egoísmo em dados momentos -, mas peca ao deixar as últimas gerações das assistentes para um episódio só. Ainda assim, vale bem a pena.