Falta à Globo a ousadia de uma novela como "Beleza Fatal"
Com vilã ambiciosa e destemida, trama não faz concessões a parcelas conservadoras
Tantos adiamentos na produção de "Beleza Fatal" fizeram com que alguns desavisados duvidassem até mesmo de que o projeto sairia do papel. Só acreditou nisso quem não entendeu a grife por trás do projeto, que tem supervisão de Silvio de Abreu, direção de Maria de Médicis e assinatura de Raphael Montes, escritor bem sucedido e responsável por séries como "Bom Dia, Verônica".
Não só "Beleza Fatal" entrou no ar como mostrou a razão de as novelas da Globo estarem tão defasadas atualmente: falta ousadia no básico. A trama da HBO não tem medo de falar de sexo, mas não ostenta vulgaridade. Tem uma vilã ambiciosa e destemida, má de verdade, brilhantemente interpretada por Camila Pitanga. Tem heroínas em busca de vingança de um modo obstinado - Camila Queiroz e Giovanna Antonelli, também ótimas. O texto é afiado. E não há concessão fácil para parcelas conservadoras em nome do medo do que possa vir a chocar.
Como primeiro experiência, a HBO acertou em cheio. E mostrou que novelas curtas, assim como foi com "Pedaço de Mim", da Netflix, são um caminho frutífero e um movimento de mercado certeiro. Talvez seja a hora de a Globo voltar a apostar no que fazia tão bem antigamente: novelas sem medo do tabu, movidas por histórias densas e divertidas, sem paúra de seus antagonistas. "Beleza Fatal" é inegavelmente bem-sucedida. Sorte do espectador.