"Fantástico" retrocede ao fazer caricatura ofensiva dos gays
Quadro de Rafael Infante parece uma triste volta ao humor dos anos 80 e 90
Não há dúvidas de que o "Fantástico" é um programa que preza pelo cuidado com jornalismo e entretenimento. Da mesma maneira, não há dúvida de que Rafael Infante é um ator e humorista de muito talento e muitos recursos. A união entre esses dois nomes, no entanto, não virou uma mistura feliz. Pelo menos para uma parcela dos espectadores, que está incomodada - com razão - com o quadro "Plantananã".
O segmento nasceu originalmente no Porta dos Fundos e é estrelado por um personagem fofoqueiro, que fala muito rápido para resumir os principais assuntos do dia. Ocorre que ele faz tudo isso de um jeito tão caricato que qualquer possível brincadeira saudável com gays afeminados acaba beirando a ofensa.
Os trejeitos de Carlinhos Avelar, como se chama a figura, são tantos que mais lembram o "humor" dos anos 80 e 90, que consistia basicamente na ideia do que heterossexuais achavam que eram os homossexuais - a brincadeira em que só um lado ria, em que machistas olhavam para a câmera e se perguntavam "onde foi que eu errei?" sobre o filho LGBT.
Para ser mais claro: o problema do quadro é que a "piada" não está nas notícias que ele resume, mas, sim, na caricatura que ele faz de uma parcela da população já tão perseguida historicamente. Rafael Infante pode fazer melhor. O "Fantástico" tem obrigação de fazer melhor. Não pegou bem. Num canhão como a Globo, não dá para transformar ofensa em "brincadeira".