Por que a "moça do avião" tem mais seguidores que famosos?
Jennifer Castro superou a marca de celebridades como Fernanda Torres e Duda Beat
Há três dias as redes sociais têm sido dominadas por uma única história: a da mulher que se recusou a ceder seu assento no avião para uma criança birrenta. Para além do debate se ela estava certa ou errada, surgiram ainda desdobramentos: entrevistas na televisão, revelação da identidade da mãe do menor de idade, de quem filmou e jogou nas redes. Nada disso, claro, se equiparou ao espanto de ver, em pouco tempo, que Jennifer Castro, até então uma anônima, ultrapassou dois milhões de seguidores no Instagram e já fez até mesmo sua primeira publicidade.
Para se ter uma ideia, o número é maior do que de Fernanda Torres, atriz com grandes chances de ser indicada ao Oscar no ano que vem, ou de Duda Beat, detentora de vários hits, que até hoje não atingiu seu primeiro milhão. O espanto é genuíno, mas pouco se pensa nas razões para tanto. E uma conjunção de fatores deve explicar o feito.
O primeiro é, claro, a catarse coletiva despertada por tais histórias. Praticamente como ocorre em reality shows, odiar ou idolatrar alguém coletivamente vira uma espécie de trend, ainda que passageira. Ninguém quer ficar de fora do debate do momento e precisa ter opinião. Ao se aglutinar a partir de seus achados, as pessoas não criam bolhas que explodem e dominam o mainstream.
Além desse efeito manada, há ainda a "preguiça digital". Tão ávidos pelo primeiro pronunciamento ou continuidade da polêmica, os usuários não querem de dar ao trabalho de efetuar buscas. Seguir alguém e receber no feed o conteúdo é mais cômodo. Mas o principal fato, inegável, é que o brasileiro, tão acostumado a injustiça, precisa, em algum momento, oferecer compensações a quem passou por algum desmando.
Ao dar a Jennifer milhões de seguidores, a sociedade lhe oferece um afago e também uma história de princesa - como aqueles programas de domingo. Agora, ela, injustiçada, mudará de vida e "será feliz". O ódio foi contornado.
Resta saber se todas essas pessoas que declararam afinidade na internet por ela continuarão consumindo seu conteúdo. E mais: se ela saberá produzir conteúdo relevante. As primeiras críticas já surgiram. Quem dá o presente, também decide tirá-lo.