Parcels chega ao Brasil com 'expectativa tão alta que precisa diminuir', dá pistas sobre novo álbum e explica fluxo Alemanha-Austrália
A banda australiana conversou sobre expectativas para o Lollapalooza, influências australianas e alemãs, novo álbum e mais em entrevista à Rolling Stone Brasil
Após uma breve visita à América do Sul em 2019, Parcels desembarca pela primeira vez no Brasil para dois shows. A banda se apresenta no Lollapalooza neste domingo, 30, e na Audio — em sideshow do festival — na segunda-feira, 31.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o guitarrista Jules Crommelin falou sobre as expectativas para a estreia no país. A conversa aconteceu em 19 de fevereiro, mesmo dia em que o músico aterrissou em Berlim para iniciar os ensaios com a banda.
Para ser sincero, sinto que a expectativa está tão alta que precisa diminuir. Recebemos tanto amor e apoio dos nossos fãs brasileiros nas redes sociais. É doido que ainda não estivemos aí. Mas nós vamos, e eu estou nervoso e ansioso.
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Segundo Jules, apenas Noah Hill (baixo) e ele moram na Austrália, onde nasceram, atualmente. Os outros integrantes — Patrick Hetherington (teclado e guitarra), Louie Swain (teclado) e Toto Serret (percussão) — continuam em Berlim, para onde todos eles se mudaram pouco depois do início do grupo, em 2014.
"Tínhamos pouca relação com a cena musical australiana, porque nos mudamos para Berlim uns seis meses depois de formar o Parcels. Nos mudamos e, para ser sincero, também não fazíamos parte da cena de Berlim", lembrou Jules. "Quando começamos, nós tocávamos folk na rua para pagar pela comida, porque morávamos todos juntos e estávamos pobres."
O trânsito entre Austrália e Alemanha continua constante para o guitarrista, que também assume os vocais com os outros membros: "Sinceramente, estamos sempre juntos, trabalhando constantemente. Então, eu meio que volto para casa, na Austrália, por um mês e depois viajo de novo, para uma turnê... Especialmente neste ano, será uma loucura".
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Jules admitiu que o fluxo entre os dois países também se manifesta nas influências do Parcels, admitindo que Tame Impala, da Austrália, e a club music, gênero que ganhou bastante espaço na Alemanha, estão entre as inspirações para seus últimos discos.
Sobre próximos lançamentos, o artista contou que já está terminando um novo álbum com o grupo. Dessa vez, eles se desvenciliaram de conceitos para permitir que o disco surgisse das composições — uma "abordagem reversa" em relação a Day/Night (2021). No último projeto, a banda foi guiada por contrastes que definiram o rumo das faixas. Agora, o disco inédito será "meio que um retorno ao início do Parcels", garantiu Jules.
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O músico confessou que foi um grande fã de metal na adolescência quando recebeu a informação de que o Parcels se apresenta no Palco Samsung Galaxy antes de Tool. Ele ainda elogiou o Sepultura e não mostrou muita preocupação com a possível presença de metaleiros no público de seu show no Lollapalooza Brasil. Jules perguntou também perguntou se Charli XCX estava no line-up e se decepcionou com a resposta negativa.
Leia abaixo entrevista na íntegra com Parcels:
Rolling Stone Brasil: Vi hoje, mais cedo, que você pegou um vôo para Berlim para ensaiar, certo? Então você está vivendo na Austrália agora?
Jules Crommelin: Sim, estou vivendo na Austrália há um ano, eu acho. Sim, acabei de pegar um avião, e vamos começar a ensaiar amanhã. Tenho que vencer o jet lag — da Austrália até aqui é um vôo longo.
Rolling Stone Brasil: Você também está lidando com o frio, né?
Jules Crommelin: Sim, está bem frio. Mas nunca vi Berlim tão bonita! Está nevando, frio e com uma brisa boa. Eu amei!
Rolling Stone Brasil: E onde os outros membros do Parcels estão morando agora?
Jules Crommelin: Noah e eu moramos na Austrália. Os outros, Toto, Patrick e Louie, vivem em Berlim. Mas, sinceramente, estamos sempre juntos, trabalhando constantemente. Então, eu meio que volto para casa, na Austrália, por um mês e depois viajo de novo, para uma turnê... Especialmente neste ano, será uma loucura.
Rolling Stone Brasil: Vocês já vieram para a América do Sul, mas nunca para o Brasil. O que esperam dos dois shows aqui?
Jules Crommelin: Para ser sincero, sinto que a expectativa está tão alta que precisa diminuir. Recebemos tanto amor e apoio dos nossos fãs brasileiros nas redes sociais. É doido que ainda não estivemos aí. Mas nós vamos, e eu estou nervoso e ansioso.
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Rolling Stone Brasil: Vocês tocarão logo antes de Tool no Lollapalooza. Então, as chances de esbarrarem com metaleiros é bem grande. Como se sentem sobre isso?
Jules Crommelin: Bom, isso será ótimo. Cresci ouvindo metal. Tive uma fase metaleira, quando tinha 15, 16 ou 17 anos — fiquei muito por dentro do metal. Não ouvia muito Tool, era mais hardcore, fã de Megadeth, Pantera, Slayer...
Rolling Stone Brasil: Você quer assistir a alguns shows no Lollapalooza?
Jules Crommelin: Sim... Esqueci o line-up. Charli XCX vai tocar?
Rolling Stone Brasil: Não, infelizmente não [risos].
Jules Crommelin: Droga! Eu realmente quero ver Charli XCX. Quem são os headliners? Eu esqueci!
Rolling Stone Brasil: Vocês vão tocar no mesmo dia que Justin Timberlake, eu acho. Terá Foster The People, Michael Kiwanuka... E, como eu disse, Tool toca logo depois de vocês.
Jules Crommelin: Parece um dia bom. Estou um pouco nervoso de subir ao palco. Tocamos depois do Tool?
Rolling Stone Brasil: Não, antes!
Jules Crommelin: Ufa, assim é melhor.
Assessor: Vocês tocam depois do Sepultura. [Na verdade, Parcels toca antes do Sepultura]
Jules Crommelin: Sepultura? Meu Deus! Isso é incrível. Loucura, nós vamos soar tão fraquinhos perto deles. Eles são pesados, muito pesados. Eu gostava de uma música deles quando era adolescente, não consigo lembrar o nome, mas eles são bons.
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Rolling Stone Brasil: Vamos falar de música. Quando vocês estavam se dedicando ao que eu chamaria de funk, a Austrália parecia estar servindo de berço para a música psicodélica dos anos 2010. Sei que se mudaram para Berlim quando eram muito jovens e porque queriam deixar a cidade natal, mas você acha que a Alemanha influenciou a música de vocês, talvez com a cultura dance e club.
Jules Crommelin: Sim! Tínhamos pouca relação com a cena musical australiana, porque nos mudamos para Berlim uns seis meses depois de formar o Parcels. Nos mudamos e, para ser sincero, também não fazíamos parte da cena de Berlim. Quando começamos, nós tocávamos folk na rua para pagar pela comida, porque morávamos todos juntos e estávamos pobres. Começamos a fazer alguns shows aqui e ali, mas, sim, nos mudamos achando que éramos uma banda de música eletrônica. Rapidamente, percebemos que não éramos um grupo eletrônico. A música eletrônica é muito diferente do que eu pensava que era. Descobrimos a club music, e isso com certeza influenciou, mas mais tarde. Nosso último disco ao vivo vai completamente na direção da club music. É um resultado dos anos em que fomos para boates em Berlim e descobrimos a música eletrônica e trance. Foi uma grande descoberta, nos deixou obcecados. Nós transformarmos nosso set em trance, fizemos um disco e seguimos em frente.
Rolling Stone Brasil: Vocês lançaram "Leaveyourlove" recentemente. Como escolheram os artistas para as diferentes versões da música?
Jules Crommelin: Basicamente, são todos amigos que fizemos pelo caminho. Nos encontramos em festivais e aleatoriamente, por meio de mensagens com elogios no Instagram. Aconteceu por sermos uma banda, recebermos mensagens e encontrarmos pessoas pela estrada. Foi muito natural.
Rolling Stone Brasil: Voltando ao assunto anterior. Você acha que tem pelo menos algumas influências australianas? Não sei se é o caso, mas algo como Tame Impala ou Pond, por exemplo.
Jules Crommelin: Sim, definitivamente Tame Impala. Lembro de quando Currents [2015] foi lançado, estávamos trabalhando no nosso primeiro EP. Fiquei obcecado por aquele álbum. Amei muito. Fizemos aquele EP sozinhos e contratamos uma pessoa para mixá-lo. Lembro de pedir a esse engenheiro de som que fizesse a bateria soar como Tame Impala. Não ficou nada parecido [risos]. É uma influência, mas talvez não dê para ouvir.
Rolling Stone Brasil: Day/Night foi lançado durante a pandemia, e vocês tiveram mais tempo para gravá-lo por causa disso. Como foi trabalhar no álbum e como vocês encontraram um tema para ele?
Jules Crommelin: Vou precisar buscar na minha memória. Fomos muito sortudos, porque gravamos no estúdio La Frette, em Paris, enquanto a covid rolava. De alguma forma, encontramos uma janela em que era possível que todos estivéssemos juntos nesse estúdio para trabalhar. Estávamos ensaiando em Berlim antes de gravar, basicamente isolados como uma banda, tocando as músicas todos os dias. Foi um período de concentração. Tinha um sentimento do tipo: 'P***, nós realmente precisamos melhorar antes de fazer esse próximo disco'. Nos esforçamos muito para tocar melhor nossos instrumentos. Passamos dois meses aprendendo músicas de outras pessoas e tocando como uma banda, fazendo jams, pegando trechos de faixas de outros artistas, ouvindo o baixo, as guitarras, a bateria, com curiosidade pelas músicas que nos inspiraram. E depois fomos para o estúdio por mais dois meses e gravamos os dois álbuns consecutivamente.
Não lembro bem como a ideia surgiu, mas acho que Pat [Hetherington] sugeriu que fizéssemos dois discos em um. Aí, no Coachella, vimos Gesaffelstein tocar e ficamos de queixo caído. Naquele momento, pensei: 'Meu Deus! Imagina se fizéssemos um álbum das sombras para o álbum das luzes. Poderíamos trazer esse personagem sombrio para a banda'. Sentíamos que não conseguiríamos fazer isso, que estávamos presos. Assim, pudemos expandir os opostos. Isso foi muito empolgante e foi o começo da ideia, dia e noite, branco e preto. Não tínhamos um nome no começo, mas sabíamos que seriam os opostos, e ficávamos falando: 'Dia e noite, dia e noite, dia e noite'. A partir daí, pensamos em fazer um longa-metragem e colocar as músicas nele. Queríamos muito isso, mas, claro, não tínhamos orçamento para fazer um filme. Deveríamos saber disso. Mas fui inspirado por muitas trilhas sonoras, álbuns de filmes que ouvi na época. É isso, a trilha sonora para um filme que nunca foi feito.
Rolling Stone Brasil: Não temos muito tempo sobrando, mas farei mais algumas perguntas. O processo de composição ainda é o mesmo de quando vocês gravaram Day/Night ou aquilo só aconteceu na pandemia? Já estão trabalhando em um novo álbum?
Jules Crommelin: Mudamos a cada álbum, sabe? O último foi muito conceitual, as músicas vieram pelo conceito. Estamos terminando um álbum agora, que foi praticamente o contrário. Seguindo o fluxo, sem pensar, apenas fazer a música e esperar para ver o álbum que surgirá dessas composições — uma abordagem reversa, o que tem sido ótimo. Como resultado, sinto que esse próximo álbum é super aberto e meio que um retorno ao início do Parcels, no sentido de sermos abertos e nos divertirmos. Não temos um conceito para nos restringir de alguma maneira, é bem 'uhul'.
Rolling Stone Brasil: Última pergunta! Criar sonoridades diferentes para suas músicas antigas não é novidade para vocês. Álbuns ao vivo, como Live Vol. 1 e Live Vol. 2, são prova disso. Então, tudo isso ajuda nos shows ao vivo?
Jules Crommelin: Ajuda! A razão pela qual mudamos as coisas é porque ficamos entediados com muita rapidez. Tipo, você faz uma música para seu disco e, quando está em turnê, quer fazer de um jeito diferente. Tocando ao vivo, você também reage ao público e percebe o que funciona em um ambiente ao vivo. Tocamos as mesmas músicas milhares de vezes, então gostamos de mudar para sentir que é algo novo para a gente. Nos sentimos bem no palco e estamos ansiosos! Mas sim, para mim, continuar mudando é uma necessidade para manter as coisas interessantes para a gente.