Quadro de Pissarro confiscado pelos nazistas vai a leilão em Nova York
Pintura 'The Anse des Pilotes, Le Havre' esteve no centro de disputa entre duas famílias que afirmavam ser donas da obra
Uma pintura do artista francês Camille Pissarro será vendida em leilão no próximo mês após uma longa disputa judicial. O quadro foi confiscado de uma família judia alemã pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial; e, em 1994, foi comprado por outra família. Desde então, os herdeiros vinham brigando na justiça pela posse de The Anse des Pilotes, Le Havre.
Segundo a casa de leilões Christie's, as partes chegaram a um acordo e o quadro será leiloado em maio, com lance mínimo de cerca de US$ 1,8 milhão. Os detalhes financeiros do acordo entre as famílias não foram divulgados.
Em 1939, Ludwig e Margret Kainer deixaram para trás uma coleção de arte, incluindo o Pissarro, quando deixaram a Alemanha em 1932, após Adolf Hitler subiu ao poder. Seus parentes reivindicam a pintura desde 2015 e processaram a família de Gerald D. Horowitz para recuperá-la no ano passado.
Advogados da família disseram que Horowitz comprou a pintura de um negociante de Nova York depois de fazer investigações para determinar se ela havia sido roubada. Entre as razões pelas quais a disputa atraiu interesse está o fato de que, pela primeira vez, Stuart E. Eizenstat, diplomata e advogado que ajudou a escrever os Princípios de Washington (usados em todo o mundo para orientar pedidos de restituição), envolveu-se em um processo individual.
Ao anunciar o acordo, as partes divulgaram declaração afirmando que o acordo "é totalmente consistente com a solução justa dos Princípios de Washington sobre a arte confiscada pelos nazistas".
Em uma entrevista, Eizenstat disse que concordou em trabalhar em nome da família Horowitz por causa de sua excelente reputação na comunidade judaica de Atlanta e porque ele é amigo de infância da esposa de Horowitz, Pearlann. "Estávamos convencidos de que eles compraram esta pintura de boa fé."
O óleo sobre tela, que retrata uma cena portuária, foi pintado por Pissarro em 1903, sendo um de seus últimos trabalhos.
Depois de deixar a Alemanha, os Kainers não conseguiram retornar com segurança para casa e sua coleção de arte e móveis foi vendida e apreendida pelo fisco de Berlim, para pagar o chamado "imposto de voo", instrumento financeiro que era frequentemente usado para punir judeus que fugiam do país.
Em 2014, a família Horowitz emprestou a obra para exibição no High Museum of Art, em Atlanta. Foi então que uma empresa contratada pelos herdeiros dos Kainers a encontrou. Com o acordo, a posse da obra será transmitida integralmente para quem a comprar no leilão.