Rodrigo Fagundes diz que a arte o libertou: 'Vi que não tinha nada de errado comigo'
Em entrevista coletiva com a participação da CARAS Brasil, Rodrigo Fagundes, o Gigi de Volta por Cima, revela que foi por meio da arte que encontrou sua liberdade
Sucesso como o divertido Gigi de Volta por Cima, o ator Rodrigo Fagundes (53) tem ganhado cada vez mais o coração do público com o seu personagem. Na trama de Claudia Souto, ele dá vida a um homem gay livre e autêntico, o que esbarra com sua história de vida pessoal; mas nem sempre foi assim. Durante abertura das gravações nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, com a participação da CARAS Brasil, o artista revela que, por muitos anos, não se sentiu seguro para ser ele mesmo, por medo da homofobia, e lembra que foi a arte quem o libertou, já na fase adulta, de todas as amarras. "Vi que não tinha nada de errado comigo", diz.
O mineiro, casado há mais de 20 anos com o ator e roteirista Wendell Bendelack (51), colaborador da autora da trama global, conta que o pai, sargento reformado do Exército, que morreu com cerca de 30 anos, o repreendia muito. "Nos meus 20, 21 anos, depois que entrei na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro), fui vendo que não tinha nada de errado comigo, sabe?", destaca o artista, acrescentando que antes tinha medo. "E é muito louco isso. Lembro que uma vez, fui pegar a bonequinha da Emília, que gostava e minha prima tinha, e ele me deu uma coça de cinto. Não podia sentar largado que ele brigava: 'Senta igual homem', e me batia. Mas hoje eu entendo - ele já morreu, foi em 2015 - porque ele vem dessa educação", completa.
O ator ainda relembra que na escola de artes, os professores falavam que não podia ter pudor para fazer os personagens, que tinha que se entregar. "Mesmo com questões religiosas, de sociedade, como personagem, não posso (...) Por exemplo, um personagem homofóbico, racista, se for falar coisas pesadas, tenho que falar porque isso vai gerar um conflito, que vai gerar uma informação que vai chegar no público. Tudo corretinho? Não, tem que ter um conflito senão ninguém vai entender", pontua o intérprete de Gigi.
Em 1992, Rodrigo se mudou de Juiz de Fora, em Minas Gerais, para o Rio de Janeiro, onde cursou Publicidade na Pontifícia Universidade Católica (PUC), durante o dia. No mesmo período, ele decidiu se inscrever escondido da família em um curso livre de atuação na CAL, de quatro meses, como já tinha falado. "Era à noite. Morava com o meu tio, que não ligava muito. Aí, falei: 'É isso que quero, eu gosto de interpretar, de brincar. Fazia isso desde pequeno. Escrevia peças baseadas no Sítio (do Picapau Amarelo), colocava meu irmão para fazer a Emília. Eu era o Visconde, mas queria ser a Emília, só que não podia (risos)", entrega.
"Hoje vejo que esse meu lado criativo era muito aflorado. Mas só fui dar vazão a isso com 20 e poucos anos. A arte mudou a minha vida. Hoje vejo como é legal ver essa minha evolução, e pego um personagem como o Gigi: nossa, preciso ser assim como se estivesse sido a minha vida inteira. Eu já tenho esse mecanismo de esconder quem eu era, talvez isso até tenha me ajudado com o personagem, não sei, porque a gente vai fingindo ser quem a gente não é", emenda.
PERSONAGENS GAYS
O ator diz que se viu estigmatizado por interpretar personagens gays estereotipados no Zorra Total, onde interpretou Patrick e fez muito sucesso com seu bordão "Olha a faca". "Por ter feito o Patrick, só me chamavam para personagens gays estereotipados. Com o tempo, falei: Não vou. Gosto de fazer, mas (...) É igual os machões, gay tem camadas, paletas. Tem gay pintosa, machão (...) Não tem problema, mas não posso fazer um personagem só por ser gay. Acho ignorância", fala.
"Talvez você até me ajudasse para o personagem, né? Eu sei, porque a gente vai fingindo que a gente não é. Não é, porque o armazinho de calcoraça é um posto, né? O mulher é um posto. Isso também, por ter feito o Patrick, só me chamavam para fazer personagens gays, serotipados. Aí um tempo eu falei, não, não vou, não vou. Eu gosto de fazer, não é nada disso. É igual os machões. Tem gays, tem camadas, tem paleta também, né? Tem o gay pintose, tem o gay machão. Eu não tenho problema, mas não faço personagens gays", finaliza o mineiro.
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