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Silviano Santiago vence o Prêmio Camões 2022

Premiação ao ensaísta, crítico e romancista mineiro foi anunciada na tarde desta segunda, 24

24 out 2022 - 15h19
(atualizado às 17h01)
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Crítico literário, professor, pesquisar e romancista, o mineiro Silviano Santiago ganhou o Prêmio Camões 2022 - o mais prestigioso da língua portuguesa. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira, 24, após a reunião do júri do prêmio. O valor do prêmio é 100 mil euros - dividido entre Portugal e Brasil.

"Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, africanos, nos Estados Unidos e na Europa)", diz uma nota do júri.

O ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva destacou o perfil de intelectual interventivo do autor. "Com uma visão ampla e abrangente sobre o que é a Cultura, materializada em reflexões sobre múltiplos domínios, desde Machado de Assis aos estudos culturais, Caetano Veloso e o tropicalismo", disse.

"O prêmio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil e não deixa de ser, para mim, em particular, um momento de alegria - um reconhecimento do meu longo trabalho em literatura", disse Santiago ao Estadão assim que o prêmio foi anunciado.

Nascido em Formiga, Minas Gerais, em 1936, Silviano dedicou toda a sua vida à literatura. Ele começou sua carreira fora do Brasil, dando aulas de literatura em universidades americanas. Na volta, ingressou na PUC e é hoje professor emérito da UFF. Ao longo de sua trajetória, ele foi crítico de jornais e revistas, incluindo o Estadão, onde ele também era colunista (relembre suas colunas).

Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do País, teve 'Mil Rosas Roubadas' premiado pelo Oceanos
Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do País, teve 'Mil Rosas Roubadas' premiado pelo Oceanos
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Entre outros prêmios recebidos por Silviano Santiago estão alguns Jabutis e o Oceanos., entre outros. Pelo conjunto da obra, ganhou o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, e o José Donoso, no Chile. E foi condecorado com o título de Officier dans l'Ordre des Arts et des Lettres e o de Chevalier dans l'Ordre des Palmes Académiques.

Nos últimos anos, Silviano Santiago tem se dedicado a escrever uma ficção mais pessoal. "Uma das características da minha obra ficcional é que nenhum livro repete o outro. Sempre tentei, de certa maneira, repensar a literatura, a ficção e o romance, a partir do novo romance que eu fazia. É uma certa coerência incoerente na minha obra. Comecei enxergando a literatura de uma maneira mais objetiva, que é o caso de Em Liberdade, mas logo em seguida, em 1985, escrevi um romance bastante corajoso, na época nem se fala, que é tido hoje como o primeiro romance gay (Stella Manhattan), no sentido moderno da palavra, da literatura brasileira", comenta. "O que existe", ele continua, "é um processo de não repetição e um interesse muito grande em ser um ativista, não na política, por causa do meu temperamento, mas ser um ativista na literatura - tentar trazer todas as questões que são fortes naquele momento para a reflexão ficcional e, indiretamente, para a reflexão do leitor." Um diálogo que fosse em cima do que está acontecendo, do que vai acontecer e do que deveria ter acontecido e não aconteceu.

"Nesse sentido, não há dúvidas de que as questões da subjetividade e da identidade individual se tornaram mais agudas no novo século. Veja como estou velho", brinca o escritor de 86 anos que segue produzindo "com garra". Essa subjetividade, trabalhada antes de uma maneira, como ele diz, excessivamente literária e metafórica, passa a ser abordada de forma mais incisiva.

Foi só agora, por exemplo, com O Menino Sem Passado, que ele escreve sobre a morte da mãe, quando ele tinha 1 anos e meio, um acontecimento que sempre evitou narrar. "Minha vida é muito marcada por essa morte, esse luto, essa perda, mas a minha mãe era como um vazio dentro de toda a minha obra. Você podia ler isso, mas lia como um vazio. De repente resolvi assumir a plenitude e a importância desse fato na própria organização da minha vida." O livro, aliás, é finalista do Prêmio São Paulo e semifinalista do Oceanos.

Entre os livros mais recentes de Silviano estão Mil Rosas Roubadas (2014), Machado (2016) e Menino Sem Passado (2021) - todos pela Companhia das Letras que publicou, ainda, este ano, uma nova edição de Em Liberdade, e em 2017 de Stella Manhattan - Romance. Em 2019 saiu 35 Ensaios de Silviano Santiago.

Silviano Santiago está feliz com o prêmio, mas não deixa de lembrar e lamentar a solidão e o desespero sentidos durante a pandemia. "E lamento também por uma infelicidade bem maior de que o mundo está sendo tomado por forças aquelas que a gente apostava que nunca mais voltariam e de repente voltam e nos causam um pavor."

Júri do Prêmio Camões

O júri da 34ª edição do Prêmio Camões foi formado por Abel Barros Baptista, professor da Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Ana Maria Martinho, professora na Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na área de Literaturas, Artes e Culturas (S. Tomé e Príncipe); Jorge Alves de Lima, membro da Academia Paulista de História e da Academia Campinense de Letras e membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp (Brasil); Raúl Cesar Gouveia Fernandes, professor do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas do Centro Universitário FEI (Brasil); Teresa Manjate, professora na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique).

Outros premiados

Chico Buarque, Raduan Nassar, Alberto da Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca estão entre os brasileiros premiados mais recentemente. José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, José Luandino Vieira (ganhou, mas recusou) e Mia Couto também já ganharam o Prêmio Camões.

Estadão
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