'The Expanse' reestreia com debate sobre radicalização
Ópera sci-fi do Prime Video retoma quinto ano explorando enredo de Naomi e falando sobre família, sobrevivência e política; veja entrevistas
ATENÇÃO, O TEXTO PODE CONTER SPOILERS!
The Expanse continua sendo uma das melhores séries do seu gênero, senão a melhor. Globalmente aclamada como um dos programas mais cientificamente precisos em viagens no espaço, a quinta temporada, que estreia nesta quarta-feira, 16, no Prime Video, dá ao público a possibilidade de mergulhar no passado de Naomi Nagata, personagem de Dominique Tipper, e de Amos Burton, interpretado por Wes Chatham, e ainda discute temáticas relevantes, como a natureza da família, sobrevivência e a radicalização da política.
“Nós prestamos muita atenção nas formas que o nosso mundo fictício ressoa não só no mundo de verdade, mas também com os problemas de verdade do mundo. Dessa forma, a gente pode adereçar de um ângulo sem filtro, de uma forma que as pessoas não se sintam atacadas diretamente, ou que sintam que a gente esteja escolhendo um lado político de algo. Assim nós conseguimos olhar para questões maiores e então brincar com respostas diferentes, com perspectivas múltiplas”, avalia Ty Franck, um dos autores da série, em coletiva de imprensa em que o Terra participou.
Para o novo ano, é a primeira vez que a tripulação do Rocinante começa cada um em um local e mesmo assim, seus enredos estão conscientemente entrelaçados. “Se a gente começasse a primeira temporada assim, não teria funcionado. Você tem que conquistar esse relacionamento entre eles e com o público, para que isso possa ser feito”, comenta Ty. “Todas as narrativas estão conectadas, todos estão respondendo aos mesmos eventos. Mesmo que eles estejam em lugares diferentes. Eles começam a temporada separados. Então [ a quinta temporada] também é sobre uma família se reunir novamente”, finaliza Naren Shankar, co-showrunner da série.
Não é de hoje que o seriado explora narrativas paralelas. A experiência realmente conduz para a excelência. E após cinco anos de série, acompanhar todos os arcos narrativos nos aproxima de cada personagem, nos mostrando facetas que só a intimidade poderia proporcionar. The Expanse honra cada um deles nesta temporada, que retoma exatamente de onde parou com a quarta. Cas Anvar a caminho de Marte, Amos voltando para Terra, e os asteroides de Marco rumando ao seu alvo. Em coletiva de imprensa, Dominique Tipper, Keon Alexander e Steven Strait comentaram as consequências de alguns dos principais acontecimentos para a história deste ano.
Nagata e os Inaros
O reencontro de Naomi com o filho Filip Inaros (Jasai Chase Owens) faz com que a personagem reviva experiências traumáticas do seu passado, o que para a atriz foi uma experiência única. “É muito fácil assumir que a Naomi seria só essa mulher que abandonou o filho dela”, comenta Dominique Tipper, “e então você descobre o motivo e como isso aconteceu, e eu acho que há muitas mulheres que também não podem estar com os seus filhos, pelos mesmos motivos da Naomi. Talvez por causa de um companheiro abusivo, ou uma situação abusiva em que elas tenham que simplesmente fugir. Eu nunca passei por isso, mas eu estou muito feliz por poder ter explorado o que essa situação se parece.Então eu acho que é interessante poder olhar com profundidade para essa situação, o que custou a Naomi e o que isso custou ao filho dela”.
Para Dominique, a busca pelo filho é algo que move a sua personagem desde o começo, mas mesmo assim, ela acredita que essa jornada traga novas camadas para a percepção dela, pelo público. “Não acho que a gente tenha visto a Naomi desse jeito antes. Mas, de alguma forma, o que ela passa na quinta temporada é, na verdade, um reforço do que é ela e de quem ela é. Nós conversamos sobre mulheres fortes, sobre força o tempo todo. E eu sou muito emotiva, Dominique é muito emotiva, e eu acho que a Naomi é uma mulher muito lógica. Mas ao mesmo tempo, a força dela, os instintos de sobrevivência dela, e o que vemos ela fazer na quinta temporada para sobreviver... o compromisso dela em sobreviver é chocante. A Naomi é uma mulher que sobrevive. E ela tem os momentos dela, de não querer existir, mas por todo o tempo, ela briga, ela é realmente uma lutadora”.
Descobrir as condições do afastamento de Naomi e de Filip também permite ao público entender intrinsecamente o relacionamento de Nagata com Marco Inaros. “Nós temos essa noção adocicada do que significa estar apaixonado e como é romântico, mas para mim, o amor é real. É o espectro completo das emoções. Não é só luz, é também escuridão. Há coisas que surgem em você por causa dessa conexão real, que nem sempre são arco-íris e borboletas. E é o que é essa conexão entre Marco e Naomi e, sim, é diferente da conexão que o Holden tem com a Naomi. E eu acho que é essa a essência dessas cenas, principalmente para um personagem que se transforma tanto, que tem tantas facetas (como Marco). Estar na presença de alguém que ele quase se sente nu, exposto, é algo muito raro, vulnerável e revelador”, analisa Keon.
Nesta temporada, o personagem de Keon Alexander passa de rebelde a líder, e a mistura do público e privado, na opinião de Dominique, vai ajudar a determinar o caráter de Marco para o espectador. “Eu estou muito curiosa para ver como vai ser a repercussão do Marco nessa temporada, porque eu não acho que ele seja necessariamente um vilão”, revela a atriz. “Eu acho que poder ver de dentro o que é a vida pessoal e a vida pública dele, talvez faça com que ele seja visto mais como um vilão, em vez de só ver a vida pública dele. Porque ele vai ser um vilão para algumas pessoas, mas para outras ele vai ser um herói. Depende se você for oprimido ou não no sistema solar. Mas eu também acho que testemunhar a mesma abordagem que ele tem no público em sua vida privada, com a Naomi, pode dar para ele um status maior de vilania”, completa.
Holden, merecidamente herói
Fã declarado dos livros que deram origem à série, Steven Strait é um entusiasta quando o assunto é The Expanse. E poder avaliar a evolução de seu personagem é uma oportunidade rara e uma das recompensas mais gratificantes para o astro. Na quinta temporada, podemos prestigiar um Holden mais seguro do seu status de herói, e para Steven, tudo faz sentido.
“Quando a gente encontra o Holden pela primeira vez, ele sempre foi um homem honesto, um homem bom, mas ele era muito egocêntrico. E nós podemos acompanhá-lo ao longo dos anos, passando por essas experiências que são aterrorizantes. E com frequência a gente vê ele cambalear. Há momentos bem difíceis com o Holden, logo no começo, que ele não se sente bom o bastante, ou que ele não fez um trabalho tão bom. Nós vemos com os nossos próprios olhos se tornando o homem que a história precisa que ele seja. Na quinta temporada, ele é um bom líder. Ele sabe o que ele está fazendo, ele já passou de tudo um pouco. Nós vimos isso um pouco também na quarta temporada, mas neste ano, nós podemos ver o Holden confiante em suas habilidades de liderança”, conta.
No ano atual da série, o personagem de Steven passa por duas grandes provações. A primeira é ter que deixar Naomi ir sozinha atrás do seu filho. E não é spoiler! Esse trecho da temporada já foi revelado durante a CCXP Worlds: A Journey of Hope. Para Strait, essa sequência é um testamento do que significa o relacionamento entre os dois. “Quando ela vai embora, para poder procurar o filho dela, é obviamente algo devastador para ele. Mas ele a apoia de qualquer jeito. É uma validação de tudo que já foi feito até agora. A gente sempre teve o melhor roteiro para falar desses temas, pensando no nível macro, mas também nas relações interpessoais. O amor que ele tem por ela, e o amor que eles sentem um pelo outro, há uma pureza nisso e é honesto. Ele nunca a desrespeitaria. E às vezes o ato de amor que você pode fazer por alguém é simplesmente deixar eles partirem”, comenta.
O segundo desafio é para os efeitos diretos que assombram a Terra, que começamos a acompanhar no fim da quarta temporada com Marco e os asteroides, e se concretizam na quinta temporada. Steven avalia que Holden tem uma perspectiva única dos acontecimentos, por tudo o que já passou até então, e mesmo com laços diretos com o planeta Terra, ele consegue entender e priorizar os perigos reais. “Ele está preocupado com o que ameaça toda a raça humana, e não com uma guerra entre facções. A ameaça aqui é que há algo lá fora que poderia acabar com todos nós em um instante. Holden é afetado diretamente nessa história com a possibilidade da família dele estar em perigo, mas acho que ele consegue enxergar em um contexto maior. Mas nesse momento ele não se sente sobrecarregado com a tragédia disso tudo”.
The Expanse reestreia com a sua quinta temporada em 16 de dezembro, no Prime Video, com o lançamento de três episódios inéditos, seguindo para a exibição de capítulos individuais, semanalmente.