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‘A Fazenda’ entrega a baixaria que o público gosta, mas falta parte essencial

Reality show garante a diversão do telespectador sádico e evidencia que o ‘BBB’ precisa melhorar sua dinâmica contra o tédio

14 out 2022 - 00h04
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É infindável a munição da artilharia de baixarias em ‘A Fazenda’. Tiro, porrada e bomba para todos os lados, dia e noite, inclusive no ‘ao vivo’. 

Dos encrenqueiros aos (quase) pacíficos, todos são atingidos por xingamentos, acusações, deboches e até ameaças. 

Nas discussões, vale difamar o caráter, expor a vida sexual, desenterrar polêmicas, soltar opiniões homofóbicas, recorrer à escatologia, verbalizar desejo homicida e até fazer ‘arminha’ para intimidar. 

A edição entrega o que prometeu. Trata-se do reality show mais tenso da televisão. Uma qualidade que também é um defeito. 

O excesso de confusão se torna repetitivo e cansa. Por isso, os momentos de alívio cômico são tão importantes nesse formato de entretenimento. 

Nesta temporada, faltam competidores com aquele humor espinhoso e anárquico, a exemplo do de Jojo Todynho e Rico Melquíades. 

Não à toa, os dois foram campeões em 2020 e 2021. Souberam inserir sarcasmo saboroso nos perrengues vividos no cotidiano do programa. 

O público gosta de quem o faz rir. Melhor ainda quando a graça está em um comportamento provocativo e na autoironia inteligente de quem não se leva a sério. 

A atual ‘A Fazenda’ está pesadíssima, com agressividade acima do habitual. Faltam pinceladas cômicas entre os bate-bocas e as investidas de agressão física. 

O elenco funciona para a guerra proposta, porém, a maioria dos participantes está o tempo todo de mau humor e indiferente à possibilidade de se divertir. 

Eles parecem obcecados em monitorar uns aos outros para encontrar argumentos para novas brigas. Uma neurose coletiva. 

“Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou”, refletiu o psicanalista francês Jacques Lacan. A teoria vale para explicar a propagação de fofocas entre os peões.

Em tempos de fake news, o reality rural da Record está baseado em distorções quase sempre propositais que geram conclusões equivocadas. 

E assim, entre berros, lágrimas e interminável estresse, ‘A Fazenda’ se reafirma mais interessante do que o ‘Big Brother Brasil’ no gênero ao qual pertencem. 

Dizem por aí: melhor um elenco que parece em surto permanente num hospício do que um confinamento de pudorosos e ‘plantas’. Na avaliação do público, quanto pior, melhor. 

Em tempo: a média da atração no Ibope está entre 6 e 7 pontos, proporcionalmente tímida em relação à boa repercussão nas redes sociais.

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