A novela serve pra quê? Mostrar como somos e pensamos
A ficção convida o telespectador a descer do muro e assumir conceitos e preconceitos.
A telenovela é um elo entre milhões de brasileiros que não se conhecem nem têm afinidades.
Principal entretenimento de massa do País, o gênero faz as pessoas interagirem em sites, blogs e redes sociais – e nos encontros casuais vida afora.
Estimula o cidadão comum a expor sua visão de mundo, as opiniões mais íntimas, inclusive as aversões.
As tramas polêmicas estimulam o telespectador discutir a diversidade da sociedade atual. A TV mostra como o mundo mudou e continua a mudar, dia a dia.
Ao destacar assuntos desconfortáveis evitados nas conversas cotidianas – homossexualidade, transfobia, violência doméstica, machismo, desonestidade, racismo, ganância etc. –, a novela serve como espelho para mostrar quem somos e como somos.
Ao invés de apenas distrair os noveleiros, os autores os convidam (ou talvez, os intimem) a participar de discussões e tomar partido, baixando o escudo da imparcialidade.
Há quem acuse a telenovela de desvirtuamento moral por mostrar ou até promover o que não seria ‘normal’ no comportamento humano.
Na verdade, o que se faz é dar visibilidade a uma realidade incômoda que muita gente prefere não ver para não precisar enfrentar.
Toda noite, a novela entra na casa das pessoas e as faz participar da história se colocando no lugar daqueles tipos e situações.
A ficção produzida na TV obriga o cidadão a encarar seus próprios demônios emocionais a partir dos dramas vividos pelos personagens.
E mesmo quem afirma odiar as novelas se vê comentando matérias sobre essa ou aquela trama e, dessa maneira, ajuda a repercutir o que jura desprezar.
A internet absorve e ecoa o que a novela mostra. Nas mensagens postadas sobre pessoas existentes apenas no universo mágico da TV, o brasileiro pratica um de seus passatempos preferidos: polemizar – e quase sempre revela muito sobre o que pensa de si mesmo, mesmo sem querer.
A novelinha nossa de casa dia coloca o telespectador num divã e pergunta: ‘quem é você e como vê a vida?’
Assim, a vida real emerge da vida inventada.
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