A TV dá aquilo que os terroristas querem: fama instantânea
Emissoras precisam repensar a valiosa visibilidade oferecida a criminosos
Os principais canais brasileiros não pronunciam a sigla PCC (Primeiro Comando da Capital). Apresentadores e repórteres dizem “a organização criminosa que age nos presídios de São Paulo”.
É uma maneira de não dar publicidade explícita aos atos do grupo. Pode parecer um eufemismo inútil, mas foi uma decisão editorial coerente na tentativa de evitar a glamourização do estado paralelo.
Afinal, a assinatura de um crime, quando amplamente divulgada na mídia, dá visibilidade e poder ao seu autor. A história mostra que o culto ao próprio ego faz parte da personalidade dos maiores e mais perigosos foras da lei.
Neste momento, a foto dos acusados de praticar o atentado terrorista em Barcelona está na primeira página dos jornais, na capa de revistas, na home de portais com milhões de acessos e na tela das TVs do mundo.
Vivos ou mortos, estão famosos. E é exatamente isso o que buscam tanto os líderes do Estado Islâmico quanto os lobos solitários da carnificina: fama imediata para si e mais visibilidade à motivação execrável pela qual matam inocentes.
Eles sabem que a ação terrorista terá repercussão planetária. Uma propaganda garantida especialmente pelo telejornalismo ecoado nas redes sociais: passam a ser conhecidos por bilhões de pessoas.
Não é raro esses facínoras deixarem rastros, como documentos e celulares, para facilitar sua identificação. Querem a garantia de fama, ainda que póstuma.
A imprensa precisa realizar uma autoanálise para rever a imensurável divulgação dada aos criminosos do tipo. Existe a obrigação de noticiar e, muitas vezes, a necessidade de fazê-lo para ajudar na prisão dos foragidos.
Contudo, esses holofotes direcionados a quem tem sede de sangue só beneficiam a eles próprios. Ocultá-los pode frustrar a mente doentia de quem busca se tornar uma celebridade do horror.
Freud, o pai da psicanálise, estudou o comportamento exibicionista inerente ao ser humano: desde bebês e ao longo da vida, todos queremos chamar a atenção de quem nos cerca.
Os monstros do terrorismo manipulam a mídia para dimensionar esse desejo – no caso deles, patológico e abominável – de ser o centro do universo.
Não podemos aceitar o papel de plateia.