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A TV foi pequena para a grandiosidade de Tônia Carrero

Atriz interpretou personagens de sucesso apesar do estigma de diva.

4 mar 2018 - 15h43
(atualizado às 15h43)
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“Não tenho saudade das novelas, mas dos amigos que fazem novelas”, me disse Tônia Carrero, em entrevista no camarim do Teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo.

Era final do ano 2000. A atriz estava em cartaz com ‘O Jardim das Cerejeiras’, clássico do russo Tchekhov. A peça fazia parte das comemorações de meio século de carreira.

Tônia Carrero durante participação especial na minissérie Um Só Coração, da Globo, em 2004.
Tônia Carrero durante participação especial na minissérie Um Só Coração, da Globo, em 2004.
Foto: Renato Rocha Miranda/TV Globo

O que mais me impressionou foi a delicadeza dos gestos, a suavidade das palavras e aqueles hipnotizantes olhos azuis.

Sentada diante do espelho iluminado, Tônia Carrero parecia a pessoa mais tranquila e doce do mundo. Estava com 78 anos.

A tão decantada beleza de diva havia derrotado o tempo. Continuava esplêndida. No palco, dominava a cena na pele de uma aristocrata decadente tentando manter a união e o status da família.

A paixão de Tônia Carrero era mesmo o palco e a plateia. Não era apegada à TV. Foi parar diante das câmeras, na década de 1950, justamente para encenar peças no ‘Grande Teatro Tupi’.

Na Globo, interpretou personagens de sucesso como a Cristina de Pigmalião 70 (1970), a Stella de Água Viva (1980) e a Rebeca de Sassaricando (1986).

Atuou ainda na TV Manchete (Kananga do Japão, 1989) e no SBT (Sangue do Meu Sangue, 1995). O último trabalho foi em 2004, como Madame Berthe Legrand em Senhora do Destino, na Globo.

A atriz não teve na televisão muitas oportunidades de exibir versatilidade. Devido ao porte de rainha, era escalada apenas para papéis de mulheres ricas e sofisticadas.

Esse estereótipo limitante imposto pela teledramaturgia a vários atores privou o telespectador de vê-la mais vezes em novelas, séries e minisséries. 

Tônia afastou-se do vídeo porque não queria interpretar sempre a mesma mulher. Sabe-se que perdeu várias personagens – inclusive de grandes vilãs da teledramaturgia – por ser considerada bonita em excesso pelos diretores.

A televisão será eternamente devedora a ela. Agora, com a morte da artista, aos 95 anos, resta ao veículo prestar as merecidas homenagens.

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