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Após ser massacrada na internet, Imane Khelif vence e chora no ringue

Boxeadora argelina supera difamação e ataques ideológicos para avançar à semifinal do boxe olímpico

3 ago 2024 - 17h52
(atualizado às 18h11)
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Foto: X/Olympic Games / Pipoca Moderna

A argelina Imane Khelif garantiu, neste sábado (3/8), no mínimo, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 ao vencer a húngara Anna Luca Hamori nas quartas de final do peso meio-médio (66 kg) por decisão unânime (5-0). Em uma semana marcada por fake news e discursos de ódio, Khelif superou a adversidade e pode ir à final se vencer a tailandesa Janjaem Suwannapheng na próxima terça-feira (6/8).

Desde o início, Khelif tomou a iniciativa e desferiu bons golpes. Hamori tentou contragolpes, mas a argelina foi estratégica e venceu o primeiro round de forma unânime na pontuação dos cinco juízes laterais. Num dos ataques, ela teria gritado "Eu sou mulher".

O choro da vitória

Khelif foi abraçada pelo público na Arena Paris Norte e venceu Hamori sem dificuldades. Ela teve seu nome gritado o tempo inteiro e, após a luta, não conseguiu conter as lágrimas, reflexo das acusações de ser transgênero feita por personalidades da direita como o ex-presidente dos EUA Donald Trump, o ex-juiz brasileiro Sergio Moro e a escritora britânica J.K. Rowling, que criou "Harry Potter". Ela foi amparada pelos treinadores ao deixar o ringue.

Falando imprensa após a luta, ela desabafou: "É uma questão de dignidade e honra para todas as mulheres". E acrescentou: "Todo o povo árabe me conhece há anos. Durante anos eu lutei boxe em competições internacionais, eles (a federação internacional) foram desonestos comigo. Mas eu tenho Deus comigo. Allahu Akbar".

Contexto da polêmica

A lutadora tornou-se foco de polêmica após vencer a italiana Angela Carini em 46 segundos em sua estreia nos Jogos, com a derrotada reclamando que nunca tinha levado pancadas tão fortes. A declaração gerou uma onda de discurso de ódio e boatos, alimentados pela IBA (Associação Internacional de Boxe), que baniu a argelina da final do Mundial de Boxe Amador de 2023 alegando que ela não cumpria os requisitos de elegibilidade para competir entre mulheres. A IBA não deu explicações, não disse qual teste foi realizado e mantém o caso sob sigilo.

Mas se a IBA baniu Khelif, também foi banida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) pela falta de transparência em meio a denúncias de corrupção, manipulação de resultados e eliminação de atletas para facilitar o caminho de outros. Mesmo sem revelar os testes, o presidente da associação, Umar Kremlev, amigo pessoal do presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que a argelina possui cromossomos XY e por isso a tirou da final de 2023, vencida pela chinesa Yang Liu. Questionado sobre as provas, alegou sigilo e nunca as apresentou.

O COI, que organizou o torneio de boxe olímpico após descertificar a IBA, permitiu que Khelif competisse, seguindo os protocolos de Tóquio 2020 - onde a argelina lutou sem levantar polêmica ou conseguir medalhas. Khelif, de fato, lutou em várias competições da IBA antes da polêmica.

Lamentando a propagação de desinformação, o COI reafirmou na sexta (2/8) que a atleta cumpria os requisitos para competir. "Estamos falando de boxe feminino. Temos duas boxeadoras que nasceram mulheres, foram criadas como mulheres, têm passaporte de mulher e competiram por muitos anos como mulheres. Nunca houve dúvidas sobre serem mulheres", afirmou o presidente do COI, Thomas Bach, no sábado, referindo-se também à taiwanesa Lin Yu-ting, alvo dos mesmos boatos.

Resposta da IBA

Em conflito político com o COI, a IBA anunciou que concederia a Angela Carini, derrotada por Khelif, uma premiação equivalente à de uma medalha de ouro.

Luta literal contra o preconceito

A rival de Khelif deste sábado, a húngara Anna Luca Hamori, também alimentou o ódio na véspera da luta. Ela provocou indignação após republicar uma imagem nas redes sociais que rotulava Khelif como um homem. Também postou uma imagem de uma pequena boxeadora enfrentando uma "fera musculosa" com luvas de boxe.

Em resposta, o Comitê Olímpico Argelino apresentou uma queixa formal sobre a lutadora ao COI.

Ser LGBTQ+ é crime na Argélia

Imane Khelif é uma mulher que nunca passou por transição de gênero e representa um país, a Argélia, onde ser homossexual dá cadeia. Influenciada pela religião muçulmana, a sociedade argelina reprime as pessoas LGBTQ+ com penas que variam de meses a anos de prisão. Elas sofrem discriminação e estigmatização tanto do governo quanto da sociedade. Essa situação força muitos a viverem de forma clandestina e impede que se exibam com segurança no país. A Argélia jamais admitiria uma atleta transexual, nem mesmo uma atleta lésbica, como representante do país nos Jogos Olímpicos.

Preocupado com a repercussão da difamação, o pai de Imane Khelif defendeu a filha: "Minha filha é uma mulher, temos todas as provas, inclusive a certidão de nascimento. Minha filha era mais forte que a boxeadora italiana. Ela apenas trabalha muito duro", ele explicou à imprensa local.

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