Arrebatadora, Deborah Secco se agiganta nas cenas dramáticas
Atriz revigora a carreira com personagem que representa as obsessões dos tempos atuais
Cega de amor e dominada pela ambição, Karola (Deborah Secco) mentiu, roubou um bebê, desviou dinheiro, traiu, tramou falsas acusações e até foi cúmplice de assassinatos.
Tudo em nome de sentimentos e intenções supostamente nobres: a paixão por Beto Falcão (Emílio Dantas), a proteção maternal a Valentim (Danilo Mesquita), a construção de um patrimônio e a preservação da tão sonhada família perfeita.
No fundo, a menina abandonada que se tornou prostituta e, depois, uma golpista compulsiva agiu movida por traumas e medos: o desespero com a possibilidade de ficar pobre novamente, o pânico de não ser amada por ninguém e a ânsia de se sentir menos infeliz.
Não se trata, aqui, de defender a canalha, e sim de ressaltar que não estamos diante de uma vilã motivada apenas por avidez financeira.
Karola é fruto de uma série de sofrimentos e violências. No fundo, uma vítima do abandono afetivo parental e das agruras impostas a quem precisou sobreviver no submundo.
Em cena, Deborah Secco defende a essência de sua personagem assim como uma leoa guarda sua cria. Com atuação visceral, a atriz fez da víbora o maior destaque da reta final de Segundo Sol.
Odiosa e, ao mesmo tempo, digna de piedade, Karola grita, chora, esperneia – e sua intérprete brilha. É um tipo mais humano e convincente do que as mocinhas do folhetim.
Deborah, no auge da beleza e em plena maturidade artística aos 38 anos, não se destacava tanto numa novela desde que viveu a deslumbrada Natalie Lamour de Insensato Coração (2011). A alpinista social foi o grande atrativo cômico daquela produção.
Em comum, ela e Karola têm o desejo por fama e poder. Na verdade, um vício. Patologia contemporânea suscitada pelos reality shows e as redes sociais. O anonimato passou a representar insignificância, tristeza e solidão. E ninguém quer passar despercebido pela vida.
Com Karola, Deborah Secco oxigena sua carreira de quase 30 anos na TV. Na galeria de personagens há desde uma garota em descoberta de si mesma (a Carol de Confissões de Adolescente, 1994) até uma moleca má (a Íris de Laços de Família, 2000), de uma heroína do Brasil Colônia (a Cecília de A Padroeira, 2001) a uma imigrante ilegal em sofrimento interminável (a Sol de América, 2005).
Revisitar a trajetória da atriz ajuda a entender sua evolução no drama e torna ainda mais justificável o sucesso do momento.
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