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Ataques ao Especial de Natal do Porta dos Fundos impulsionam canal

Filme carrega na ousadia ao apresentar uma versão gay de Jesus e um Deus pegador que tenta seduzir Maria; confira o trailer

14 dez 2019 - 12h36
(atualizado às 13h21)
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Seja qual for a estratégia por trás da ofensiva de líderes evangélicos contra o filme A Primeira Tentação de Cristo, especial de Natal do Porta dos Fundos que está na Netflix, ela não deu certo. O boicote contra a plataforma de streaming e o abaixo-assinado em defesa do impedimento do longa pregaram para convertidos e foram mais eficazes para promover o produto do que qualquer campanha publicitária.

Não há notícia sobre queda no número de assinantes, muito pelo contrário. Muita gente que teria passado despercebida pelo vídeo foi conferir o motivo de tanta polêmica. A ousadia de apresentar uma versão gay de Jesus e um Deus pegador que tenta seduzir Maria foi em grande parte escorada em decisão judicial de 2015, quando a Justiça de São Paulo arquivou um processo movido pelo deputado e pastor Marco Feliciano contra o canal.

O parlamentar pediu, mas não levou R$ 1 milhão por "ultraje a culto" e "impedimento ou perturbação de ato a ele relativo", crime que está previsto no Código Penal. A decisão deixou claro que não há limite para o humor da trupe. O curioso é que não houve tanta gritaria quando o Porta dos Fundos lançou, em dezembro do ano passado, o filme Se Beber Não Ceie, que ganhou recentemente o Emmy Internacional de melhor comédia do ano.

A jornalista Cristina Padiglione foi direto ao ponto ao observar que o Cristo gay interpretado por Gregório Duvivier causou mais indignação que o Jesus profano e mau caráter de Fábio Porchat. No especial de Natal deste ano, Jesus completa 30 anos e leva um convidado que conheceu no deserto para conhecer sua família. O filho de Deus e Maria é recebido com uma festa-surpresa que se desdobra em uma sequência de situações e diálogos hilários.

O ponto é o mesmo de quase todas as anteriores: a revelação que Jesus não é filho de José, mas de Deus. Em 2016, em outra versão hilária, o cenário da descoberta foi um programa sensacionalista de TV na linha Ratinho no qual o Messias é submetido a um teste de DNA.

Os roteiristas do Porta dos Fundos são uma verdadeira usina de tiradas geniais sobre o Natal e os especiais se tornaram uma tradição como os shows de Roberto Carlos. Em 2017, Deus concede entre goles de um drink uma longa entrevista exclusiva sobre a saga de Noé e sua arca.

Em 2013, Jesus pergunta a um romano se os pregos que prenderiam sua mão na cruz estavam esterilizados. Os filmes estão todos disponíveis no YouTube, de graça. A sequência merece uma maratona. Não há no cardápio da Netflix nenhum produto de humor que supere os filmes do Porta dos Fundos.

Fundado em 2011, o Porta dos Fundos é um consórcio com os melhores quadros do gênero. Em 2013, tornou-se o maior canal brasileiro no YouTube. Os evangélicos estão ajudando a manter essa marca.

Estadão
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