Atrizes tiveram atuações brilhantes e mexeram com o público
‘A Força do Querer’ mostrou personagens essencialmente humanas e de fácil identificação emocional
Seria injusto apontar o melhor ator e atriz de ‘A Força do Querer’. A novela apresentou inúmeras performances acima da média e algumas dignas de prêmios.
Havia vários anos não se reunia tantos bons personagens em um folhetim, com atuações marcantes de veteranos, artistas em ascensão e estreantes.
Aos 38 anos, com treze novelas no currículo, Juliana Paes atingiu a maturidade em cena. Ela injetou em Bibi uma humanidade poucas vezes vista na teledramaturgia.
Camaleônica, conseguiu transmitir a ambiguidade da personagem, uma mulher com sentimentos e intenções conflitantes. Ás vezes boa, às vezes cruel. Honesta com o coração e as pessoas, ignóbil diante da ética e da lei.
Sem ser vilã tampouco heroína, Bibi foi profundamente humana e verossímil. Uma protagonista única, sem precedente. Tanto é que o público amou odiá-la.
Paolla Oliveira exibiu um domínio absoluto nas cenas dramáticas. Destaque para duas consequências nas quais presenteou o telespectador com atuação sublime: o resgate de duas crianças no morro e a morte do colega policial de Jeiza.
O que aconteceu ali foi uma atriz totalmente entregue à bravura e à dor de sua personagem. Cenas com pouco texto e muita emoção – prova de fogo para qualquer intérprete.
Esses momentos tão realistas fizeram da Major um tipo tão heroico quanto vulnerável, forte e ao mesmo tempo frágil, como qualquer um de nós.
Em um País tomado pela corrupção e a desesperança, ela representou a justiça, a ética e a ilimitada força feminina.
Com Jeiza, Paolla Oliveira provou a capacidade de ir muito além das várias mocinhas delicadas que já interpretou, impostas por seu physique du rôle. Trata-se de uma artista pronta para voos bem mais altos na dramaturgia.
O que escrever a respeito de Lília Cabral? Bela e plena aos 60 anos, ela potencializou o alcance de sua personagem.
Silvana se mostrou um paradoxo: sensata em muitas situações, como no trato com o sobrinho transexual, e completamente equivocada em relação a si mesma na cegueira proposital diante do vício em jogo e da mitomania.
O termo humanização precisa ser repetido aqui, já que a atriz construiu sua atuação de maneira tão visceral que fez o público se identificar, se emocionar e torcer por uma jogadora compulsiva inconsequente.
A isso chamamos inteligência cênica – neste caso, acrescida da imensurável sensibilidade de Lília, uma das maiores artistas deste País.
O talento de Juliana Paes e Paolla Oliveira já estava mais do que provado. Contudo, ‘A Força do Querer’ o consolidou aos olhos da crítica e dos telespectadores.
Lília Cabral, aplaudida de pé pelos próprios colegas, ganhou a oportunidade de se renovar diante das câmeras. Mais uma personagem inesquecível em sua vasta galeria de tipos.