Audiência prova: brasileiro prefere novela a fazer política
Maioria da população se distrai diante da TV enquanto políticos deitam e rolam em Brasília
Em junho de 2013, os protestos pelo País contra o governo de Dilma Rousseff reuniram alguns milhões de pessoas.
Ainda que tenham causado impacto e amedrontado a classe política, não chegaram perto do poder de mobilização de uma novela de sucesso.
Toda noite, ‘A Força do Querer’ reuniu, em média, 7 milhões de telespectadores diante da TV apenas na Grande São Paulo, principal praça de aferição da Kantar Ibope.
Em alguns capítulos com recorde de audiência, o folhetim das 21h chegou a atrair perto de 10 milhões de pessoas na região metropolitana da capital paulista – praticamente a metade de todos os moradores da área.
Multiplique esse número pelas demais regiões do Brasil e terá quase metade da população total sintonizada na Globo. É indiscutível: a telenovela exerce impressionante poder de atração e influência sobre o brasileiro.
Não significa que esse gênero de ficção seja alienante, como alguns argumentam. Contudo, mostra que o cidadão médio prefere o escapismo de uma novela do que sair às ruas para protestar contra a corrupção praticada por homens públicos eleitos por ele próprio.
Diariamente, borbulham novas denúncias escabrosas que, em qualquer outro País, resultariam em união popular por mudanças imediatas na política e na gestão da máquina pública.
Aqui, porém, o ruído maior é detectado nas redes sociais. O palco principal – as ruas – registra um quase silêncio incompreensível.
Enquanto isso, nas conversas de bar, elevador, salão de beleza e ponto de ônibus, milhões repercutem o final do novelão que distraiu o povo nos últimos seis meses.
O problema, como se deduz, não está no gosto pela novela, e sim na indiferença em relação à atuação política individual.
Aliás, a ‘novelinha nossa de cada dia’ é, em muitos casos, usada como desculpa para não sair de casa a fim de fazer política nas manifestações.
Para muitos (milhões e milhões), as cenas dos próximos capítulos são mais interessantes – e relevantes – do que a atuação popular pelo futuro do País.
O filósofo grego Platão anteviu esse comportamento do brasileiro ao escrever: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.
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