Autora da Globo morreu no meio da novela que escrevia
Leonor Bassères deixou em seu computador uma reflexão poética sobre o fim da própria vida
Em meados de 2003, Leonor Bassères recebeu o diagnóstico de câncer de pulmão. Apesar do impacto da notícia e dos temores intrínsecos à doença, ela não desistiu do projeto em andamento: escrever a novela ‘Celebridade’ em parceria com o amigo Gilberto Braga.
O folhetim sobre a obsessão por fama e poder estreou em outubro daquele ano. O primeiro capítulo marcou média de 50 pontos e indicou o sucesso que estava por vir. Leonor teve a chance de conferir o êxito de seu último trabalho. Ela morreu aos 77 anos no dia da exibição do capítulo 94, em 29 de janeiro. Recebeu justa homenagem póstuma no desfecho da trama cinco meses depois.
Querida e respeitada, sua morte entristeceu a classe de autores. Antes de ser convidada por Braga para criar teledramaturgia, Bassères foi autora de livros infanto-juvenis, jornalista, crítica literária e professora de línguas. A primeira colaboração em TV foi no roteiro de ‘Água Viva’, em 1980.
Como autora principal ou coautora, escreveu ‘Vale Tudo’ (1988), ‘O Primo Basílio’ (1988), ‘Mico Preto’ (1990) e ‘O Dono do Mundo’ (1991). Em 1992, ela acompanhava diariamente ‘De Corpo e Alma’ para auxiliar a titular Gloria Perez, que sempre escreveu sozinha, no caso de algum imprevisto.
O assassinato da atriz Daniella Perez, filha de Gloria, fez Leonor assumir interinamente a escrita da novela. Revisou mais de 20 capítulos e criou muitas cenas, inclusive a da despedida da personagem Yasmin. Depois disso, ainda colaborou em ‘Pátria Minha’ (1994), ‘Meu Bem Querer’ (1998) e ‘Labirinto’ (1998).
Após a morte de Leonor Bassères, repercutida na imprensa e na TV, seus filhos encontraram um texto de despedida no computador da novelista, com o título ‘Como Curtir uma Morte Bem Curtida’. Ela lamentava estar “numa cadeira de rodas, roída por um câncer do pulmão na metade de cima, e por uma hepatite medicamentosa no resto”.
Apesar da situação dolorosa e ciente da finitude iminente, a autora não perdeu o lirismo. “Sempre pedi a Deus ou a essa autoridade que manda nos homens e na terra, morrer dormindo. Achava lindo e confortável. Mas morte em manhã linda de verão também servia, já que o que estava ficando insuportável era a vida. Fechei os olhos e pensei ‘vamo nessa’ e fui.”