'Benjamin Button' é fábula sobre o envelhecimento
Há alguns anos, o humorista George Carlin (1937-2008) encantou o mundo com um texto que falava sobre as maravilhas da vida inversa: nascer velho e morrer com a felicidade de uma ejaculação. Bem antes disso, em 1922, o escritor F. Scott Fitzgerald expôs um ponto de vista contrário no conto O Curioso Caso de Benjamin Button, que inspirou o roteiro do belíssimo filme de David Fincher, com previsão de estréia no Brasil em 16 de janeiro.
Fitzgerald preferiu imaginar como seria se apenas uma pessoa pudesse desfrutar deste mundo novo. Todas as outras seguem seu percurso normal de vida e morte. No filme, esse homem é interpretado por Brad Pitt, que nasce como um bebê velho e enrugado e passa a rejuvenescer ano a ano.
Abandonado pelo pai - em choque com a imagem do bebê deformado -, Benjamin é deixado na porta de um asilo e recebe os cuidados de Queenie (Taraji P. Hanson), uma afro-americana que toma conta dos velhinhos do local. Inicialmente assustada com a imagem da "criança", Queenie passa a tratá-lo como filho. Como o médico disse, ela acredita que ele sofre de uma doença degenerativa e está conformada com o fato de que vai perdê-lo aos poucos.
O que se segue é uma narrativa que coloca a vida e a morte no mesmo patamar. A ambientação realista ajuda a transformar este conto de fadas em uma crônica dos dias atuais.
Quem conhece os trabalhos de David Fincher com certeza se surpreenderá com a delicadeza em que esta obra é tratada. Diversos momentos históricos são passados pela tela como flashes, especialmente do marcante século 20: a repressão afro-americana, a 1ª e a 2ª Guerra Mundial, a ascensão dos Beatles, os poderosos anos 60. Mas se enganam aqueles que se voltam pensando em olhar uma produção grandiosa. Benjamin Button nada mais é do que uma fábula sobre o envelhecimento.
Daisy, personagem de Cate Blanchett, é quem mais representa este ponto de vista. Envolvida com um homem que fica mais belo e jovem a cada dia, ela tem que enfrentar quase o mesmo dilema que o protagonista: perder a pessoa amada, com exceção de que neste trajeto ela também se depara com as marcas da idade que tomam seu corpo.
A subjetividade do roteiro é o que mais pesa nesta obra. Por meio de Benjamin Button, conhecemos outros personagens, que aos poucos vão marcando os encantos da personalidade do personagem de Pitt. No fim, o nascimento e a morte são coadjuvantes na tênue linha que as divide, a vida, propriamente dita.
Com três horas de duração, o filme toca mais ainda não aqueles que têm medo de envelhecer, mas os que temem a eterna juventude. É o cinema em sua melhor forma.