11 ‘bombas’ ditas por Hebe no 'Roda Viva' mostrado na série
Episódio omite citação das derrotas que a apresentadora impôs à Globo durante fase gloriosa no SBT
Em 17 de agosto de 1987, a imponente arena do Roda Vida, da TV Cultura de São Paulo, foi ocupada por Hebe Camargo. Transmitida ao vivo, aquela edição do tradicional programa de entrevistas entrou para a história da televisão por conta das respostas da veterana artista, então com 58 anos.
Na época, a grande imprensa corria atrás da apresentadora. Ela estava na capa de revistas e na primeira página de jornais. De repente, todos queriam ouvi-la, fotografá-la, fazer homenagens, contratá-la para publicidade. “Por que você acha que, neste momento, está tão na moda?”, questionou o âncora Augusto Nunes, que a chamou de “mito”.
Quase tímida, a apresentadora riu. Estava rouca. “Não sei. De repente fui procurada pelas revistas. Será que alguém falou que eu vou morrer?”, brincou, com humor característico. “Se for, morro num momento em que estou de bem com a vida. E a gente morrer de bem com a vida deve ser uma coisa muito boa.” O apresentador do Roda Vida a corrigiu: “Você está mais viva do que nunca.”
Esse momento importante da carreira da estrela da TV foi reproduzido no penúltimo capítulo da minissérie ‘Hebe’, no ar na noite de quinta-feira (24), na Globo. O papel de Augusto Nunes coube a Fernando Vieira. A equipe de produção de arte fez um excelente trabalho ao montar um cenário quase idêntico ao original.
O emocionante episódio da minissérie dirigida por Maurício Farias — e que rendeu indicação a Andrea Beltrão como Melhor Atriz no Emmy Internacional — só falhou ao omitir a referência feita por Augusto Nunes ao sucesso de Hebe no Ibope contra a poderosa Globo. “Seu programa na TVS tem batido nas últimas semanas a TV Globo”, comentou o âncora. Pouco mais de um ano após a estreia no canal de Silvio Santos, ela era a artista mais vista e prestigiada da televisão.
O blog selecionou outras 11 frases surpreendentes de Hebe ao longo das duas horas em que foi sabatinada no Roda Viva por vários jornalistas, entre eles Boris Casoy, Ruy Castro e Leão Lobo. Trinta e três anos depois, algumas opiniões da inalcançável grande dama da TV continuam vanguardistas e capazes de chocar os conservadores do passado e do presente.
- A respeito do receio dos artistas de serem demitidos da Globo: “Antigamente, os atores tinham muito medo de sair da Globo e perderem o prestígio. Eu sempre dizia ‘Se você tiver realmente valor não tenha medo de sair porque você será tão grande em qualquer lugar que for’. Não é a Globo que te faz grande, é você que é.”
- Sobre suposta censura para não criticar políticos diante das câmeras: “Quando eu fui pra lá, a imagem do SBT era de que era proibido falar de política. Ninguém podia falar porque o Silvio Santos badalava todos os governos. Ele continua fazendo o programa dele, é dono da emissora, ele badala quem ele quiser, certo? Agora eu, não.”
- A insistência em denunciar os problemas sociais do Brasil: “As pessoas dizem ‘você está muito bem de vida, mora bem, é bem casada, está numa posição maravilhosa, ganhando bem’. Eu digo ‘ah, muito bem, quer que eu ponha uma venda nos olhos?’ Para mim, seria uma maravilha, extremamente tranquilo ficar alienada dos problemas. Mas eu não consigo, realmente não consigo.”
- A decisão de jamais entrar para o mundo da política: “Uma dona de casa comum, se tivesse o veículo que eu tenho (um programa na TV), diria a mesma coisa que eu digo. Não digo como política, porque não sou. Não digo postulando nenhum cargo político, porque jamais serei, jamais aceitarei. Eu digo como uma mulher comum.”
- O uso de seu prestígio para debater grandes tabus na TV: “Vamos falar de Aids. É um assunto que a população ainda não se conscientizou da gravidade. Então, às vezes, eu brinco até, para falar mais seriamente sobre o assunto da Aids.”
- Legalizar ou não a interrupção da gravidez: “Eu acho o aborto algo tão pessoal, tão delicado. Dá impressão que se a gente fala ‘eu legalizaria’, vai sair todo mundo abortando feito louco. ‘Oba, legalizou, vamos abortar’. O que as pessoas têm que pôr na cabeça é que não é pelo fato de legalizar uma coisa, que você será obrigado a fazer.”
- A respeito do recebimento de muitos pedidos de ajuda de brasileiros humildes: “Eu tô ajudando um monte de pessoas. Mas não sou eu quem tem que ajudar. É você que está no governo. Você, ministro, presidente, governador, você, deputado que vai nas ruas, faz demagogia nas favelas. Na época em que precisa do voto, vai aonde quer que seja. Depois de eleito, nunca recebe essas pessoas que precisam. Você se esquece da cara deles.”
- Sobre as críticas de telespectadores por ter dito a palavra “bunda” em um programa e a sugestão para dizer “bumbum”: “Veja que ridículo, eu, com essa idade, falando ‘bumbum’. Tem cabimento uma coisa dessa? Profundamente ridículo”.
- Respondendo por que sempre defendeu os gays: “Por que não defender? Eles são piores do que a gente? Eles escolheram ser assim? São seres humanos iguais a gente. Eles têm pai, têm mãe, irmãos, trabalham, pagam seus impostos”.
- Retrucando a insinuação de que, com seu apoio aos gays, incentivaria um homem a se tornar homossexual: “O fato de eu falar, não vai mudar. Ou as pessoas nascem assim ou não nascem. Não é porque a Hebe Camargo falou. ‘A Hebe Camargo falou, maravilha, então vou ser’. Não. Quem tem que ser, é. Não faço a cabeça de ninguém.”
- Os rumores de que teria sido paga para apoiar políticos como Paulo Maluf em campanhas eleitorais: “Sou uma mulher que trabalho desde os 14 anos, com carteira assinada. Em toda a minha vida eu trabalhei e ganhei. A minha vida sempre foi assim, trabalhando. Eu não preciso de dinheiro de político, graças a Deus.”