A difícil missão de informar na TV sobre alguém muito doente
Na Band, Datena se equilibra entre investir na notícia ruim que gera audiência e o risco de cair no sensacionalismo
Todo mundo já ouviu dizer que desgraça aumenta a venda de jornais, gera mais cliques na internet e garante pontos extras no Ibope. É verdade. O público se interessa mais por manchetes ruins, dramáticas, pessimistas, apelativas.
Um dos desafios de quem faz jornalismo ao vivo na TV é dosar a curiosidade do telespectador, a busca por audiência e a ética profissional a fim de não cair na armadilha de promover o ‘mundo cão’ nem desrespeitar os personagens das notícias.
No momento, as emissoras têm a missão de informar a respeito do estado irreversível do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, sem exagerar no tom para evitar a espetacularização do sofrimento.
Na tarde de sexta-feira (15), José Luiz Datena, do ‘Brasil Urgente, na Band, foi o primeiro na TV aberta a revelar a piora no quadro clínico do político de 41 anos, internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratamento de câncer em fase terminal.
O veterano âncora, que se fez ícone do jornalismo policial, foi inúmeras vezes acusado de explorar tragédias diante das câmeras. Houve, sim, excessos. Mas, neste caso, ele se mostrou respeitoso e empático.
Deu o ‘furo’ (jargão jornalístico para notícia em primeira mão) de maneira discreta, sem transformar um drama pessoal e familiar em show de horror na TV. Ainda que visivelmente sensibilizado, conduziu a cobertura sem ceder à tentação do sentimentalismo.
Telejornalismo é gente falando de gente. O respeito que um apresentador deseja para si deve oferecer ao outro – os anônimos ou famosos que viram notícia. Quem foi alvo de tantos ataques no ar, como o próprio Datena, sabe como dói ser objeto de exploração em nome da audiência em tempo real.