A relação de amor e ódio de Trump e Bolsonaro com as TVs
Presidentes do Brasil e dos EUA se parecem no trato com aliados e inimigos da grande mídia
"A culpa é da imprensa”, argumentam alguns dos mais polêmicos governantes do planeta ao serem questionados nas fases de impopularidade. A história da política possui inúmeros episódios de conflitos entre presidentes e emissoras de TV, assim como complacência exagerada de canais com os mais poderosos do Executivo. Neste momento, Jair Bolsonaro e Donald Trump oscilam entre esses dois polos.
O presidente brasileiro mantém guerra particular contra a Globo. Já chamou a TV de ‘inimiga’. Contra ela, solta xingamentos e acusações. Afirma ser perseguido pelo principal veículo de comunicação da família Marinho. Em algumas ocasiões, insinuou a possibilidade de dificultar a renovação da concessão de funcionamento da emissora.
Do outro lado, o jornalismo da Globo continua a criticar Bolsonaro e, eventualmente, a exibir matérias com denúncias contra sua gestão, os aliados políticos e os filhos parlamentares do presidente. A perda de 60% da verba publicitária vinda do governo federal não fez o canal carioca recuar, tampouco se intimidou diante do distanciamento de alguns anunciantes privados ligados a Bolsonaro e dos boicotes de audiência organizados por bolsonaristas que entoam o grito de protesto “Globo lixo”.
O presidente brasileiro conta com a simpatia ou apoio explícito de três emissoras: RecordTV (do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus), SBT (do comunicador Silvio Santos) e RedeTV! (de Marcelo de Carvalho, sócio e vice-presidente do canal). Esses empresários de televisão defendem Jair Bolsonaro publicamente, seja em culto a fiéis, diante das câmeras ou em entrevistas à imprensa. Os telejornais sob as ordens do trio cobrem o cotidiano da Presidência e do governo de maneira menos crítica e incisiva do que o jornalismo da Globo, líder em audiência no Ibope.
Nos Estados Unidos, Trump vive situação semelhante à do colega Bolsonaro: apoiado por alguns canais, duramente monitorado por outros. A Globo do republicano ocupante da Casa Branca é a CNN, sempre simpática aos democratas. Os comentaristas do canal de notícias reprovam abertamente as atitudes pessoais e as decisões institucionais do homem mais influente e controverso da América do Norte. Para se defender do noticiário negativo, Donald Trump diz que a CNN espalha ‘fake news’ e invoca boicotagem ao canal.
Na outra ponta está a Fox News, emissora declaradamente conservadora de propriedade do magnata da mídia Rupert Murdoch, tradicional apoiador do Partido Republicano. A TV é uma espécie de porta-voz trumpista: promove as declarações e os atos do presidente norte-americano com raras contestações. Recentemente, quando se irritou com uma repórter do canal, Trump sugeriu que ela deveria ser demitida e disse que a Fox News estava tomando o caminho errado.
Bolsonaro e Trump se elegeram com a ajuda das redes sociais. Souberam usar ferramentas digitais para atrair votos e atacar oponentes. Mas nenhum dos dois despreza o poder de influência da velha televisão. Por isso, mesmo a contragosto, eles buscam a imensurável visibilidade proporcionada por câmeras e microfones. Presente em mais de 98% das casas no Brasil e nos Estados Unidos, a TV ainda é o mais eficiente cabo eleitoral.