A TV adora criticar, polemizar e ganhar audiência com Trump
Repercutir cada parvoíce do presidente-marqueteiro parece ser um erro proposital da imprensa
"Yes, we can" (Sim, nós podemos) foi o slogan de Obama. O de Trump poderia ser uma versão americana do "Falem mal, mas falem de mim".
O presidente republicano é viciado em autopromoção. Pelo Twitter (33 milhões de seguidores) ou nas coletivas, ele solta declarações bombásticas consciente do efeito midiático que terão.
E o alvo – a imprensa – é ao mesmo tempo vítima e propulsora das polêmicas do homem mais poderoso e controverso do planeta.
O recente episódio do vídeo viral no qual Trump nocauteia um homem com o símbolo da CNN no lugar do rosto é simbólico dessa relação ambígua entre o ocupante da Casa Branca e o jornalismo.
Tosca, a montagem ganhou relevância surpreendente. Gerou manchetes nos principais telejornais do mundo – inclusive destaque no Jornal Nacional – e notas de repudio de entidades respeitadas que enxergaram incitação de violência contra jornalistas.
Ponto para Donald John Trump. Mais uma vez ele tuitou uma bobagem que ganhou status de escândalo global e levou seu nome e imagem ao topo da escala de visibilidade.
Isso se repete quase semanalmente: o presidente dos Estados Unidos lança uma isca e a imprensa se joga no anzol.
Bastaria ignorar as sandices previsíveis. Mas, não, preferem levá-las a sério e dar cada vez mais espaço para Trump no noticiário.
E assim o político-marqueteiro consegue desviar a atenção de sua administração caótica. A guerra particular do magnata contra a mídia faz parte de seu jogo político – e ele conta com a cumplicidade do adversário.
A verdade é que Trump dá audiência à TV, atrai cliques para sites e blogs, aumenta a venda de impressos (jornais e revistas). Ou seja, lucrativo.
Criticá-lo pode ser uma resposta ideológica e um posicionamento político-partidário, mas também um recurso para chamar e entreter telespectadores e leitores.
Enquanto os jornalistas continuarem a repercutir cada frase ou atitude desvairada de Trump, mais vão ajudá-lo a se promover, a alimentar o ódio de seus apoiadores pela própria mídia e fazer o jornalismo parecer um programa sensacionalista de fofocas.
“A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”, escreveu um conterrâneo de Trump, o nova-iorquino William James, pai da psicologia moderna.