Afinal, a Globo foi favorecida por militares do Golpe de 64?
Presidente Bolsonaro sempre provoca a emissora ao perguntar se Roberto Marinho teria sido “ditador ou democrata”
A resposta para a pergunta recorrente do título é não. Teoricamente, não. A TV Globo entrou no ar às 11h35 de 26 de abril de 1965, 1 ano e 1 mês depois do golpe militar que tirou João Goulart da Presidência. Na época da inauguração, o País era presidido pelo general Castelo Branco. Mas a emissora fundada pelo jornalista Roberto Marinho havia nascido antes disso — e sem a colaboração dos militares que suprimiram a democracia.
Dono dos bem-sucedidos ‘O Globo’ e Rádio Globo, o empresário tentou lançar seu canal de TV em 1951, sob o governo do marechal Eurico Gaspar Dutra (eleito democraticamente em 1945), quando fez a requisição de uma concessão pública. Determina a Constituição que o direito de montar e lançar uma nova emissora deve ser concedido exclusivamente pelo Estado.
A primeira tentativa de Roberto Marinho falhou. Em 1953, o presidente Getúlio Vargas revogou a autorização dada para o nascimento da Globo. Somente quatro anos depois, na gestão de Juscelino Kubitschek, a aprovação foi assinada. Pouco depois começava a ser montado o Canal 4 do Rio de Janeiro. Para fazer a expansão, Marinho comprou emissoras já existentes em São Paulo, Belo Horizonte e Recife.
A segunda concessão, para o lançamento da Globo em Brasília, foi autorizada em 1962 por João Goulart, justamente o presidente deposto no Golpe de 64. Portanto, as duas únicas concessões obtidas por Roberto Marinho para criar sua rede de televisão tiveram a chancela de presidentes eleitos por voto direto, sem interferência do poder militar. Aliás, durante o regime imposto pelas Forças Armadas, a Globo teve alguns pedidos de novas concessões negados pelos militares.
Cabe uma segunda questão: a Globo apoiou a ditadura? Aqui a resposta é sim. A aprovação começou em ‘O Globo’, dias após o golpe, e foi adotada também pela TV, ainda que não explicitamente. Editorial de outubro de 1984, assinado pelo próprio Roberto Marinho, confirmou a posição pró-militares. Em agosto de 2013, exatamente uma década após a morte do empresário, o Grupo Globo postou um texto no qual admitiu ter sido um “erro” apoiar o regime antidemocrático. William Bonner leu tal retratação no ‘Jornal Nacional’.
A ligação assumida entre a Globo e o regime militar — uma das inspirações para a criação da hashtag #GloboGolpista durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff — foi explorada politicamente por Jair Bolsonaro antes mesmo da campanha presidencial. Em 28 de agosto daquele ano, ao ser sabatinado na bancada do ‘JN’, o então candidato repetiu ao vivo o questionamento habitual que faz até hoje. “Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?”, provocou. Bonner rapidamente cortou o assunto. “Já houve editorial sobre isso, o senhor certamente está informado.”