Alvo de bolsonaristas, Renata Vasconcellos reage com flores
Âncora do ‘Jornal Nacional’ cultiva blindagem contra o ônus da fama e o veneno da radicalização na internet
Símbolo de inteligência, beleza e elegância na televisão brasileira, Renata Vasconcellos não passa incólume à onda de ódio contra a Globo. Jair Bolsonaro a contestou algumas vezes — inclusive olho no olho, na bancada do ‘JN’, em 2018 — por ter salário menor que o do colega William Bonner, em tentativa de desqualificar a igualdade de gênero e desmoralizar os âncoras.
Na ocasião da sabatina do então candidato à Presidência, Renata o enfrentou com sólido argumento. “Eu poderia até, como cidadã, e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questionamentos sobre os seus proventos porque o senhor é um funcionário público, deputado há 27 anos, e eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário”, disse.
“O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu”, completou. Naquela noite tensa, a apresentadora virou alvo de apoiadores do político conservador na internet. Foi chamada de “ridícula” e “mentirosa”, entre outros insultos.
Em maio de 2020, novo ataque de Bolsonaro: ele disse em uma ‘live’ que a jornalista fazia “cara de freira arrependida” ao noticiar a escalada de mortes por covid-19 no País. Diante daquela grosseria e de ofensas em outros momentos, Renata Vasconcellos manteve a quietude.
Publicamente, não caiu na armadilha das provocações dos desafetos. Parece ter seguido o conselho de um dos maiores escritores do Brasil, Caio Fernando Abreu (1948-1996): “Ignore, não ligue, não responda. O silêncio destrói qualquer um”. Ao descartar o contra-ataque raivoso, tão comum a quem é aviltado na web, a âncora e editora-executiva do telejornal mais visto do Brasil ressalta sua virtude.
No Instagram, onde possui 1,1 milhão de seguidores, Renata posta conteúdo poético. Um antídoto contra a negatividade dominante na maioria das redes sociais. São fotos de flores que enfeitam sua casa, paisagens, pinturas, animais. Registros de viagens, pratos de comida caseira, detalhes de decoração, objetos do cotidiano. Nas selfies, as características peculiares da jornalista: pouca maquiagem, naturalidade, olhar intenso.
Nos comentários, incontáveis elogios e até declarações de paixonite. Ela é chamada várias vezes de “Julia Roberts brasileira”. “A mais linda da Globo”, escreveu um admirador. Há também, em menor número, contestação e hostilidade. A hashtag #GloboLixo aparece. “Por que esse ódio todo com Bolsonaro?”, questionou um eleitor do presidente. Ainda que seja um alvo, a âncora não sofre o mesmo linchamento virtual sofrido por Bonner, obrigado a abandonar as redes sociais para preservar a si mesmo e a família.
Reservada, avessa às futilidades da fama, Renata Vasconcellos demonstra viver um estilo de vida singelo. Gosta de se cercar de coisas bonitas, preserva recordações de família, busca refúgio no campo sempre que possível, não se priva de um doce de vez em quando, aprecia a companhia de cães, lê muito a fim de compreender o passado e se preparar da melhor maneira para o futuro... “Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples”, escreveu o poeta Manuel Bandeira (1886-1968). A mulher por trás da poderosa âncora de TV indica saber bem o que é isso.