Ameaçado, Bonner já vive isolado desde antes da quarentena
Âncora do Jornal Nacional deixou de circular em público após episódios de hostilidade e agora sofre ameaças
Um dos prazeres prosaicos de quem mora em uma grande cidade é tomar um café no balcão de uma padaria. Imagine-se tranquilamente nessa circunstância quando, de repente, uma mulher começa a xingá-lo e lançar acusações. O ambiente antes agradável vira cenário de constrangimento para você e aos demais frequentadores do lugar. Essa agressão aconteceu em uma manhã de sábado, na Lagoa, área nobre da zona sul do Rio, contra William Bonner. "Eu me senti culpado por incomodar, com aquela situação, quem estava comendo um simples pão na chapa", disse o jornalista a Pedro Bial, em rara e reveladora entrevista.
Bonner aderiu ao distanciamento social meses antes do início da quarentena imposta pela pandemia de covid-19. Passou a evitar aparições em público. Antes da autorreclusão, era comum os paparazzi o flagrarem em passeios ao shopping com a mulher, a fisioterapeuta Natasha Dantas, e em almoços com os filhos de seu casamento anterior, com Fátima Bernardes. Desde janeiro não há registros desses momentos corriqueiros a qualquer cidadão. O temor não é somente de provocações verbais.
Em entrevista recente, o ator Hugo Bonemer, primo de William Bonner, contou que a família recebeu ameaças. O radicalismo produzido pela polarização político-ideológica no País já provou ser capaz de atos extremos, inclusive contra a vida.
Há, ainda, o perigo representado por pessoas mentalmente desequilibradas. São numerosas as histórias de perseguidores de famosos. Um exemplo foi visto em 10 de junho, quando um homem armado com uma faca fez refém uma repórter da Globo, invadiu a sede carioca da emissora e exigiu falar com a âncora do JN Renata Vasconcellos. A intervenção eficiente de policiais e da própria jornalista resultaram em final pacífico. Esse episódio acendeu a luz vermelha na direção da Globo.
A amarela estava acesa havia muito tempo: desde os protestos de 2013, várias equipes de jornalismo do canal foram ameaçadas e até atacadas por críticos da linha editorial da empresa. Em algumas coberturas, repórteres usaram microfone sem a canopla com a logomarca da emissora a fim de não atrair a atenção dos antiGlobo.
Por sua superexposição no vídeo e o poder de decidir quais notícias ganharão destaque, e o tipo de abordagem, William Bonner é, hoje, o jornalista de TV mais odiado do Brasil. Tem o azar (ou seria o privilégio?) de desagradar tanto a esquerda quanto a direita. Seus maiores 'inimigos' são o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Ambos o desafiaram para uma espécie de duelo, um confronto cara a cara diante das câmeras. Não receberam resposta. As tentativas de boicote ao Jornal Nacional resultam em fracasso. Desde 2018, o telejornal registra audiência crescente. No momento, médias acima de 30 pontos — até cinco vezes mais público do que os principais jornalísticos noturnos da RecordTV e do SBT.
Apesar de o cidadão William Bonemer Júnior (seu nome de batismo) ter sido sufocado pelo jornalista William Bonner, não há indicador de que o âncora do JN vá recuar. Mostra-se indignado, magoado e estressado, porém ainda combativo na linha de frente do telejornalismo. A força do quarto poder atribuído à imprensa está personificada nele.
Ao mesmo tempo, Bonner representa o ônus cobrado de quem está em posição tão influente. Foi transformado na principal vidraça da Globo, na qual seus desafetos e haters atiram sem parar. O jornalista de 56 anos tem fama, status e dinheiro, mas falta a ele a valiosa tranquilidade de comer um pão na chapa na padoca da esquina sem ser notado nem incomodado.