Âncora negra é insultada por racistas: “Lugar só de brancos”
Conceição Queiroz investiu na formação acadêmica para superar pobreza e racismo a fim de realizar o sonho de trabalhar em TV
Não é apenas no Brasil que os apresentadores negros são alvo de discriminação racial, a exemplo do que ocorreu algumas vezes com Maju Coutinho, do ‘Jornal Hoje’, da Globo. Em Portugal, a âncora Conceição Queiroz, do canal TVI24, vive a mesma situação cotidianamente.
No caso dela, o racismo se manifesta acompanhado de xenofobia, já que nasceu em Moçambique, País do sudeste da África que foi colônia de Portugal até 1975. “Mulher africana é burra”, diz uma mensagem recebida pela jornalista. “Sua preta, tiras o lugar dos portugueses” foi outro insulto.
Os detratores contestam sua capacidade profissional. “Dizem que me prostituí para chegar aonde cheguei, que mulher negra tem de dormir com alguém para subir na vida”, relata. “Não entendem como me dão ‘um trabalho que é só para brancos’, ordenam que me vá embora, ligam para o meu local de trabalho a pedir que seja afastada.”
Nas redes sociais, há quem critique a âncora por seu cabelo volumoso estilo ‘black power’ tingido de loiro. Sugerem que alise os fios para ter uma estética menos associada aos pretos. No dia a dia, a comunicadora flagrou pessoas debochando de sua dedicação aos estudos. No momento, conclui um doutorado e pretende em breve seguir para o pós-doutorado.
Aos 15 anos, ouviu de uma professora: “Tu não vais ser ninguém na vida”. Aquele desdém deu a ela mais força para superar os obstáculos. Na juventude, trabalhou como ajudante em restaurantes para conseguir pagar a faculdade. “As notícias são boas: nós, negros, apostamos ainda mais na formação.”
Com 46 anos de idade e 26 de carreira no jornalismo, Conceição Queiroz aprendeu a não se abalar, porém, se preocupa com negros sem a mesma estrutura emocional. “Peço aos agressores que continuem a atacar-me, mas abandonem quem ainda não se defende e fica com cicatrizes para o resto da vida.”
A apresentadora revela conhecer afrodescendentes com severa depressão, vivendo à base de remédios, por conta da rotina de ataques racistas. “Uma forma clara de terrorismo”, afirma. Aos negros anônimos expostos ao preconceito, Conceição Queiroz deixa um conselho fundamentado em sua experiência de vida. “Não abaixem a cabeça, não aceitem o desrespeito. Não sejam violentos, mas afirmativos.”