Âncoras gays sob ataque: humilhação, nudes e haters
Matheus Ribeiro, Marcelo Cosme e Anderson Cooper enfrentam momento tenso na carreira e vida pessoal
O público em geral aceita mais facilmente um artista gay do que um jornalista homossexual. Por isso tantos profissionais de imprensa optam esconder sua orientação sexual. Às vezes, a maioria das pessoas sabe, mas prefere fingir não saber, e o comunicador aceita esse frágil escudo em um lamentável jogo de dissimulação. Quando acontece o 'outing' (a 'saída do armário'), o jornalista se torna um alvo fácil, vitrine para ofensas, deboches e até ameaças. Em muitas situações, passa a ser julgado por não seu talento e ética, e sim pelo desejo intrínseco à sua natureza. No momento, três âncoras de programas jornalísticos sofrem as consequências de viver quem são com liberdade.
Matheus Ribeiro se demitiu da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, por discordar da redução de 50% de seu salário. Outro motivo para se desligar do canal seriam humilhações e perseguições por parte de alguns colegas em razão da visibilidade nacional conquistada por ele ao se assumir gay e ganhar vaga no rodízio de apresentadores do Jornal Nacional. Nas redes sociais, Matheus já sofreu ataques homofóbicos. Houve também insulto por parte de um radialista. Agora ele terá o desafio de se recolocar em outra emissora. Resta saber se o fato de ser gay assumido dificultará seu retono ao vídeo.
A semana passada foi caótica para Marcelo Cosme, âncora do GloboNews em Pauta e apresentador eventual do Jornal das 10 e do Jornal Hoje. Na terça-feira (7) ele foi filmado e xingado por 'quebrar' o isolamento social ao fazer caminhada na orla carioca. O vídeo da hostilização viralizou. Um dia depois, o jornalista gerou mais manchetes com a divulgação de fotos íntimas supostamente dele em aplicativos gays. Cosme não se pronunciou. Tempos atrás, o âncora se viu obrigado a reagir a comentários homofóbicos em suas redes sociais, quando ressaltou a possibilidade de criminalização de tal prática odiosa. Marcelo nunca disse literalmente "sou gay", porém, tempo atrás postou fotos de contexto romântico com outro homem no Instagram. Imagens discretas, mas reveladoras, posteriormente apagadas.
Nos Estados Unidos, o mais prestigiado apresentador da CNN e ícone da comunidade gay Anderson Cooper também vive uma fase tensa. Dias atrás, ele despertou a ira de republicanos e conservadores em geral ao lançar duras críticas a Donald Trump. O apresentador afirma que o presidente americano usa as conferências de imprensa sobre a pandemia de covid-19 para fazer campanha por sua reeleição à Casa Branca. Contestar a vida sexual de Cooper foi a resposta ignóbil de numerosos trumpistas e homofóbicos. Essa é uma reação recorrente: quando o jornalista é gay, seus desafetos sempre usam o preconceito — o próprio e o de parte do público — para tentar desmoralizá-lo.