Aos 90 anos, Beatriz Segall ainda é a rainha de todas as vilãs
Todo mundo está cansado de saber quem matou Odete Roitman. E mesmo assim a vilã continua mais presente do que nunca na memória coletiva.
E lá se vão 27 anos desde a elucidação do mistério que marcou a novela Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, com direção de Dennis Carvalho e Ricardo Waddington.
No dia 25 de julho, Beatriz Segall, que interpretou a personagem de maneira irretocável, completou 90 anos. Em um jantar, em São Paulo, a atriz comemorou a data com os três filhos, netos e amigos. "Estou mais viva que nunca", disse ao site Glamurama.
Quando surgiu na pele da ricaça arrogante em Vale Tudo, Beatriz estava prestes a fazer 63 anos - com aparência de dez a menos. Para efeito de comparação, Regina Duarte (Raquel) tinha 41, e Gloria Pires, a outra víbora da trama, Maria de Fátima, 25.
Segall já trazia no currículo personagens marcantes da teledramaturgia, tais como a Celina de Dancin´ Days (1978) e a Lourdes Mesquita de Água Viva (1980).
Mas foi como a matriarca do clã Roitman que ela atingiu o auge da carreira e uma popularidade poucas vezes alçada por outras atrizes. Beatriz confirma (e reclama) que a chamam de 'dona Odete' até hoje.
Depois da pérfida empresária que adorava debochar do Brasil e dos brasileiros vieram boas discípulas: Perpétua (Joana Fomm/Tieta), Laurinha Figueiroa (Gloria Menezes/Rainha da Sucata), Laura 'Cachorra' (Claudia Abreu/Celebridade), Nazaré 'Raposa Felpuda' (Renata Sorrah/Senhora do Destino), Flora (Patrícia Pillar/A Favorita), Carminha (Adriana Esteves/Avenida Brasil), entre outras.
Em 2004, numa entrevista ao programa Almanaque, da GloboNews, Beatriz Segall respondeu sobre idade: "É segredo. Tenho 25, pronto", brincou; ela estava com 78 anos na ocasião.
"Pra mim, uma atriz não tem idade. É uma questão profissional. Se você tem 50 anos, pode perfeitamente fazer uma mulher de 35. Mas se o público sabe (a idade real da atriz), não aceita (que ela interprete personagem mais nova)."
Em 1988, no Jornal Hoje, deu sua versão para o sucesso de Odete Roitman: "Era um bom texto, uma boa direção, tive um elenco sensacional à minha volta, direção de arte, iluminação, tudo… A qualidade humana de todas as pessoas envolvidas no trabalho".
No mesmo telejornal, oito anos antes, ela comentara a respeito da fama de altiva e autoritária. "Eu falo com veemência, e passo essa impressão. Na verdade sou muito tímida. Não sou uma pessoa tão forte assim, ao contrário, acho até que sou muito frágil."
Em 1992, no Fantástico, a atriz explicou o rótulo de 'rica e chique' que a distancia de papéis de pobre: "Gosto de coisas finas, agradáveis, bonitas. E no fundo tenho certa culpa de ser assim num país com dificuldades sociais tão grandes".
As declarações de Beatriz Segall citadas nesse texto fazem parte de um especial do Arquivo N, da GloboNews, exibido na semana passada e disponível no YouTube e no GloboNews Play.
Se, eventualmente, alguém viveu quase três décadas abduzido e não sabe quem matou Odete Roitman, eis a resposta: foi Leila (Cássia Kiss). O assassinato aconteceu por engano. Ela pensava estar atirando em Maria de Fátima, que havia tido um caso com seu marido, Marco Aurélio (Reginaldo Faria).
Exibido em 24 de dezembro de 1988, o crime foi solucionado no último capítulo, duas semanas depois, em 6 de janeiro, quando Vale Tudo alcançou impressionantes 81 pontos de audiência e tornou-se, definitivamente, uma das melhores novelas da TV brasileira.
Desde então, Beatriz Segall é - e jamais deixará de ser - a insuperável Odete Roitman.