Assédio, misoginia, xenofobia, homofobia... Cancelem o BBB20
Edição vendida como histórica pela Globo se torna um deplorável show de intolerâncias
"Esse japonês que rebola o rabo", disse um participante em relação ao hipnólogo paulista de ascendência coreana Pyong Lee. "Ainda bem que nessa edição não tem nenhum gay", declarou outro. Numa festa, um brother se referiu a certas sisters como "putas". Três exemplos dos preconceitos explícitos vistos no Big Brother Brasil 20.
Em apenas 14 dias no ar, o programa já teve misoginia (manifestação de aversão à mulher), machismo (atitude para inferiorizar o sexo feminino), xenofobia (repulsa a estrangeiros ou pessoas de origem diferente) e homofobia (discriminação a gays).
Além disso, o público assistiu a comportamento masculino inadequado interpretado como assédio sexual — sob apuração policial anunciada no Jornal Nacional de segunda-feira, dia 2 — e ações classificadas como agressão física (um empurrão e uma cuspida).
Essas inconveniências não são novidade no reality show. Já vimos isso antes, mas não todas concentradas em uma mesma edição e em tão pouco tempo de confinamento. A maior parte veio do grupo chamado nas redes sociais e por parte da imprensa de 'boys lixo', 'machos escrotos', 'homens das cavernas' e 'machos podres'.
O BBB20 deixou de ser mero entretenimento superficial para se tornar um espetáculo deprimente no horário nobre da emissora mais assistida do Brasil. Aliás, o canal tem sido merecidamente criticado por não dar uma resposta rápida e contundente às manifestações preconceituosas na atração. Negligência imperdoável do mais poderoso veículo formador de opinião do País. Para usar uma gíria do momento, o reality mereceria ser 'cancelado', ou seja, completamente ignorado.
Por outro lado, a atração ganha relevância como reflexo da sociedade atual. Todos os preconceitos e as hostilidades flagrados pelas câmeras do BBB acontecem em pior grau pelos quatro cantos. Na era do radicalismo e da polarização, os intolerantes saíram do armário e agem sem medo nem culpa.
O que causa espanto é ver que alguns desses intransigentes acreditam estar blindados contra o julgamento moral. Pensam, ingenuamente (ou seria por idiotice?), contar com o apoio popular mesmo agindo de maneira odiosa. Se o BBB20 tem alguma utilidade social, trata-se do choque de realidade em gente dentro e fora da casa. Quem desrespeita o outro não sai mais ileso: a lei manda para o paredão.