Bolsonarista, Lacombe teve na Band status que Globo não deu
Apresentador conquistou mais visibilidade na TV e na imprensa ao expor convicções e ousar defender o conservadorismo
Caiu, mas foi uma queda digna. Luís Ernesto Lacombe deixa a Band maior do que quando chegou, em maio de 2019. Afastado do Aqui na Band, e sem outro projeto próprio no horizonte, o apresentador preferiu não continuar na emissora. Decisão acertada. Melhor buscar outras oportunidades a ficar encostado ou subaproveitado.
Em apenas treze meses no canal do Morumbi, o jornalista teve mais projeção de sua imagem do que em vinte anos na Globo e GloboNews. Apesar da audiência baixa, quase sempre menor do que 1 ponto, o Aqui na Band deu a ele uma plataforma para dizer o que pensa e promover suas crenças ideológicas.
Destacou-se como defensor das pautas conservadoras e do presidente Jair Bolsonaro. Argumentou em favor de ações polêmicas da polícia e pelo direito da população se armar. Criticou decisões do Judiciário contra o Executivo e a política da OMS (Organização Mundial da Saúde) para o enfrentamento da pandemia de covid-19.
Goste-se ou não de Lacombe, seja por discordar de seu raciocínio ou da maneira como se manifesta, há de se aceitar o direito que ele tem de ser 'do contra', em oposição à maioria dos colegas de TV. A pluralidade é imprescindível tanto na democracia quanto no jornalismo. Ter alguém com visão diferente da maioria na imprensa faz bem ao debate de ideias.
Não se trata, aqui, de corroborar o que o apresentador diz, e sim de compreender a liberdade de fazê-lo - até para que seja contestado por aqueles com visão antagônica. Assim deve ser o telejornalismo: espaço equilibrado para a representação da diversidade de pensamento. E quem avançar os limites da coerência e da lei que responda por seus atos.
Luís Ernesto Lacombe caiu em desgraça ao bater de frente com a cúpula do jornalismo da Band. Sua atuação passou a ser vista como panfletária em prol da extrema direita e do núcleo ideológico do bolsonarismo. Em alguns momentos realmente faltou equilíbrio editorial.
Com futuro incerto na TV, ele foi incentivado por seus seguidores fiéis a intensificar atuação no Twitter e no Instagram, onde tem 1 milhão de pessoas conectadas. Pelo que demonstrou diante das câmeras, o jornalista não ficará calado. Tornou-se uma voz importante para a direita brasileira e atingiu um novo patamar na carreira.