Bolsonaro não se distancia da imprensa que ele tanto critica
Presidente tem um hábito inédito na relação com os repórteres em comparação aos antecessores no cargo
Todas as manhãs, Jair Bolsonaro pede ao motorista do Fusion Presidencial para parar diante da concentração de jornalistas e admiradores na portaria do Palácio da Alvorada.
O presidente poderia dar atenção apenas aos seus eleitores, ávidos por uma selfie, mas faz questão de responder perguntas dos repórteres. Respostas ao seu modo, obviamente.
Quase sempre, Bolsonaro se irrita com os questionamentos. Não é raro deixar o local sem esclarecer temas controversos lançados pelos representantes de jornais, revistas, rádios, TVs e portais de notícias.
Nenhum outro presidente manteve contato diário tão próximo com os repórteres de Brasília. O que chegou mais perto disso foi Fernando Collor, no auge da efêmera popularidade, quando obrigava cinegrafistas e fotógrafos a correr atrás dele, literalmente, durante o cooper nos arredores da Casa da Dinda.
Bolsonaro já declarou várias vezes ter a imprensa como um de seus principais inimigos. Ele se sente perseguido e injustiçado pelas grandes companhias de comunicação, especialmente o Grupo Globo, comandado pela família Marinho, e a Folha de S. Paulo, do clã Frias.
No entanto, não consegue – ou não quer – manter o distanciamento protocolar que os presidentes costumam ter no trato com os jornalistas. Faz questão da convivência frequente, do enfrentamento permanente.
Por um lado, esse comportamento incomum gera valiosa publicidade espontânea a ele e ao seu governo. É uma maneira de atingir os bolsonaristas não captados nas redes sociais.
Mas há o efeito colateral: o excesso de exposição faz o presidente estar sempre em conflito com a imprensa. Nessa relação desgastada, às vezes as boas notícias são ofuscadas por polêmicas bobas suscitadas nos confrontos diários com os repórteres.
Vive-se um paradoxo: os meios de comunicação nunca foram tão atacados e ameaçados como agora sob a presidência de Jair Bolsonaro, e jamais tiveram tanto material para divulgar como nesses turbulentos primeiros meses de mandato.
Para o bem e para o mal, o Brasil de hoje é uma interminável fábrica de manchetes bombásticas.