Casos de assédio sexual destroem bela carreira em Hollywood
Ganhador de dois Oscars, Kevin Spacey perde prestígio e poder e é criticado até por ter se assumido gay
A certa altura de ‘Beleza Americana’, Oscar de Melhor Filme de 2000, o ‘loser’ (termo para designar o fracassado social na América) Lester Burnham diz viver um casamento de aparências “para mostrar que somos normais, apesar de não sermos”.
Kevin Spacey acaba de ser traído pela imagem idealizada que construiu em torno de si. Foi obrigado a se revelar como realmente é: um desprezível assediador sexual.
Depois da primeira acusação contra ele, feita pelo ator Anthony Rapp, surgiram novos relatos de ataque sexual praticado pelo astro de ‘House of Cards’.
Um ator latino radicado em Londres contou que vários homens do elenco do Old Vic, um dos mais tradicionais teatros de Londres, foram assediados durante os anos em que o americano atuou como diretor artístico do espaço.
Agora, oito membros da equipe técnica do seriado da Netflix – todos homens jovens – disseram ter sido apalpados ou encurralados por Spacey nos sets de filmagem. Não o denunciaram naquele momento por temer demissão.
Longe da mídia desde o início do escândalo, Kevin Spacey informou, por meio de agentes e assessores, que vai procurar ajuda médica para se tratar.
Esta costuma ser uma resposta padrão de celebridades envolvidas em episódios de assédio sexual, abuso de drogas e alcoolismo.
Ir para uma ‘rehab’ é a maneira encontrada de se afastar dos holofotes e transmitir a impressão de arrependimento e busca por redenção.
Mas, neste caso, a estratégia não vai surtir efeito. A imagem do astro de Hollywood está definitivamente manchada e a chance de reabilitação parece ser zero.
A imprensa americana cogita até a expulsão dele da Academia do Oscar, como ocorreu dias atrás com outro figurão acusado de vários assédios, o produtor Harvey Weinstein.
Spacey tem duas estatuetas douradas: Melhor Coadjuvante por ‘Os Suspeitos’ (1996) e Melhor Ator por ‘Beleza Americana’ (2000).
Além disso, possui outros prêmios cobiçados pelas grandes estrelas, como o Globo de Ouro, o Emmy, o Tony, o SAG e o Bafta.
Poucos artistas foram tão reconhecidos por seu talento como Kevin, 58 anos de idade e 31 de carreira no cinema.
Nem mesmo o ‘outing’ (a saída do armário) serviu para amenizar as críticas ao ator. Ao se desculpar pela primeira denúncia, ele aproveitou para se assumir gay.
Os ativistas o bombardearam com críticas: disseram que o artista usou a revelação da homossexualidade apenas para desviar o foto da acusação de assédio.
O episódio foi considerado um desserviço à causa LGBT já que muitas pessoas farão uma associação direta entre ser gay e ser um predador sexual.
Um dos efeitos colaterais desse escândalo é o cancelamento temporário das gravações da sexta e última temporada de ‘House of Cards’.
Na série sobre os bastidores da política em Washington, o presidente Frank Underwood, papel de Spacey, corrompe e mata em nome do poder. Na vida real, o ator caiu numa armadilha armada por ele próprio.
Kevin tem três filmes com estreia prevista para os próximos meses. A repercussão negativa das denúncias certamente vai prejudicar o lançamento e a bilheteria dos longas.
Outro projeto é ‘Gore’, filme bancado pela Netflix no qual o ator interpretaria o polêmico escritor Gore Vidal. Tudo indica que a produção será cancelada ou terá outro protagonista.
Gay e liberal, Gore Vidal foi um inspirado crítico do ‘american way’, o estilo de vida americano. Uma de suas frases mais famosas serve como slogan para a desgraça de Kevin Spacey.
“As contradições nos definem e, ao mesmo tempo, nos desmantelam.”
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