Cenas emocionantes minimizam desgraça sem fim em Amor de Mãe
Revelação de Lurdes a Danilo e reencontro com os outros filhos contrapõem excesso de violência na novela
Lírica no início, ‘Amor de Mãe’ se tornou uma novela difícil de assistir na segunda fase. Virou um folhetim de crimes e mortes, infortúnios e sofrimento. Overdose de drama em um dos momentos mais tensos da vida dos brasileiros, com a pandemia descontrolada, o medo a dominar o pensamento e a incerteza a respeito do futuro.
A tradicional novela das 21h, que sempre serviu de escapismo, dessa vez se impôs tão dura quanto a realidade. Sem humor, sem esperança, sem conforto emocional. Mas o capítulo de quarta-feira (7) ofereceu alguns minutos de alento. O público merecia enfim chorar de emoção pela ficção, e não de tristeza pelo que está a viver.
O tão aguardado reencontro de Lurdes, a mãe guerreira, com Domênico, o filho roubado, teve a emoção prevista, com atuações contundentes de Regina Casé e Chay Suede — este, um dos melhores atores da nova geração. Pouco texto, muitas lágrimas, olhares cúmplices, abraços confortantes, sorrisos de alívio. Foi bonito.
A sequência devolveu o verniz poético aplicado pela autora Manuela Dias no começo de ‘Amor de Mãe’, uma saga feminina valorizada pelo visual de cinema. Igualmente tocantes as cenas de Camila (Jéssica Ellen) e Magno (Juliano Cazarré) recebendo a ligação da matriarca tida como morta e o retorno de Lurdes aos braços dos filhos em sua casa.
A trajetória de ‘Amor de Mãe’ foi prejudicada pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19. Houve ainda um problema interno: a insistência da autora em construir uma trama excessivamente soturna e com pouca comunicação com o público. Lembrou o erro cometido por João Emanuel Carneiro na também sombria e violenta ‘A Regra do Jogo’ (2015-2016).
O novelão das 9 sempre oferece pitadas generosas de drama. O público até gosta de sofrer um pouco com protagonistas injustiçados e heroicos. Acontece que agora o tempero veio forte demais. Essa época ímpar pedia um folhetim mais leve, um contrapeso à dureza do noticiário. Faltou proporcionar a nós, telespectadores confinados, o alívio que se espera sentir ao ligar a TV para se desligar da vida real.