Cinco anos sem Amy: vítima de si mesma e da mídia carnívora
A townhouse no número 30 na Camden Square, no norte de Londres, estava tranquila demais naquela manhã de sábado, 23 de julho de 2011. Um dos seguranças decidiu averiguar o silêncio incomum no quarto da dona da casa. Após forçar a porta, encontrou o corpo imóvel da mulher de 1,59m de altura e menos de 50 quilos. Era Amy Winehouse. Estava morta.
Chegava ao fim uma trajetória brilhante e dramática, marcada por virtuosismo e bizarrices. A cantora sucumbiu ao abuso de álcool justamente numa fase de abstinência de outras drogas. Estava com 27 anos, a tal idade maldita, na qual morreram ídolos da música igualmente indomáveis como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison e Kurt Cobain.
Amy foi vítima de si mesma, e também da mídia. Houve uma retroalimentação: a cantora gostava do circo montado em torno dela, e a imprensa - não apenas o segmento sensacionalista, mas também os veículos considerados 'sérios' - tinha a personagem perfeita para gerar manchetes espetaculosas e atrair audiência.
Nos poucos anos de carreira, a cantora tornou-se uma diva desconstruída. Às vezes linda e glamourosa, às vezes suja e cambaleante. Sua vida era compartilhada à força com dezenas de paparazzi que a seguiam 24 horas por dia e absorvida por gente que nem apreciava sua música.
Tudo virava notícia: um tropeço na calçada, um xingamento inédito, um novo machucado provocado pela própria Amy em sessões de autodestruição desencadeadas pela Síndrome de Borderline. Escândalos, polêmicas, futilidades.
Cinco anos depois, nota-se que Amy pedia socorro, mas ninguém a ouvia - ou fingia não ouvir. Devem ter concluído que a personagem era tão produtiva em imagens e rentável financeiramente (venda de jornais e revistas, cliques em sites, ibope de programas de TV) que era melhor mantê-la naquele estado deplorável.
Até que a previsibilidade se confirmou. Todo mundo sabia que Amy Winehouse morreria precocemente. Fomos espectadores de um desfecho anunciado e, ainda assim, chocante.
Em exploração midiática, ela foi na última década o que sua compatriota Diana Spencer representou em sua época como Princesa do Povo.
Ambas mantiveram uma relação ambígua com a imprensa, consentiram a superexposição de dramas íntimos, lançaram modismos, influenciaram milhões de pessoas e saíram de cena abruptamente, sem final feliz.
Não houve outra Diana nem uma nova Amy. Agora a mídia é dependente do vácuo escultural de Kim Kardashian e afins. Pobres paparazzi…