Comerciais de Bradesco e Natura têm casais gays interraciais
Diversidade sexual em propaganda na TV rendeu tentativa de boicote ao Boticário em 2015
Uma das ações comerciais mais caras da televisão brasileira é aquele comercial exibido eventualmente logo após a escalada (anúncio das manchetes) do ‘Jornal Nacional’. No sábado (12), o espaço foi ocupado por um vídeo de 3 minutos do Bradesco, com foco na desesperança trazida pela pandemia de covid-19 e na importância de recuperar a fé em relação ao futuro. O banco adotou o slogan ‘Em 2021 volte a brilhar’.
A animação criada pela agência Publicis em parceria com o estúdio de 3D Zombie tem, entre os personagens, um casal gay interracial. Os dois homens representam as pessoas obrigadas a ficar separadas por conta do distanciamento social para prevenir a contaminação pelo novo coronavírus.
No roteiro, um médico negro na linha de frente em um hospital deixa o celular sobre uma cama para atender a um chamado. Em casa, um rapaz branco se entristece ao não ter a ligação atendida. Em outro trecho, quando a nuvem negra que representa a pandemia é dissipada pela luz (a esperança) produzida por vagalumes, os dois se reencontram e se abraçam.
A cena lembra sequência semelhante vista no comercial de fim de ano da Natura. A produção mostra dois homens — um branco e um negro — no momento do ‘sim’ no casamento. “Estão preparados para continuar a vida, agora um ao lado do outro, com respeito, com amor?”, pergunta a cerimonialista. Emocionados, os jovens sorriem e se abraçam. O negro sussurra “te amo” no ouvido do companheiro.
As duas peças publicitárias pró-comunidade LGBT+ não suscitaram, a princípio, numerosas reações contrárias nas redes sociais, diferentemente do ocorrido em maio de 2015, quando um comercial de Dia dos Namorados de O Boticário gerou ataques homofóbicos e mobilização conta a marca de cosméticos e perfumes.
O filme mostrava a troca de presentes de casais de várias configurações, incluindo duas lésbicas e dois homossexuais masculinos. Telespectadores conservadores protestaram imediatamente. O caso foi parar no CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária). O órgão ‘absolveu’ a empresa de cosméticos pela propaganda com gays por não identificar nada ilícito contra os consumidores e a concorrência.
De acordo com a pesquisa Todxs, feita pela ONU Mulheres (entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres) e a Heads Propaganda, os LGBT+ são vistos em apenas 1,3% dos comerciais de TV e principais posts publicitários no Brasil e os negros também continuam a ser minoria na publicidade.