Covid-19 mata Miss Biá, drag pioneira e 'Hebe das gays'
Artista Eduardo Albarella ousou ao se 'montar' pela primeira vez 62 anos atrás
O universo LGBTQI+ perdeu um de seus nomes mais luminosos. Morreu nesta quarta-feira (3) Miss Biá, considerada a primeira drag queen do Brasil. Ela começou a se travestir em 1958, quando trabalhava como office boy em São Paulo.
Por trás da aparência de diva estava Eduardo Albarella, um apaixonado pelo teatro de revista. A peruca loira e a maquiagem impecável o fizeram ser conhecido como "Hebe Camargo dos LGBTs". Ele chegou a trabalhar como maquiador da saudosa apresentadora, morta em decorrência de câncer em 2012.
O performer, que estava com 81 anos e não resistiu a complicações da covid-19, se insparava em ícones do teatro, do cinema e da música, como Carmem Miranda, Gina Lollobrigida, Rita Hayworth e Marilyn Monroe.
Numa época em que as drags cantavam à capela, Miss Biá ganhou fama e respeito com seus shows em boates da região da Boca do Lixo. Ele se apresentava inclusive em danceterias chiques para casais héteros.
Eduardo Albarella sobreviveu à repressão da censura aos gays e atores transformistas na ditadura militar. Paralelamente aos shows como drag, atuava como estilista. Vestiu celebridades da TV e ganhou prêmios por seus looks.
Em 2018, em entrevista à revista Época, Miss Biá disse como queria deixar este mundo. "Que Deus me mande uma morte boa, no hospital, não em casa. Porque lá eles já me dão banho, me arrumam, para ir linda, direto para o caixão."
Por conta do protocolo sanitário em razão do risco de contaminação pelo novo coronavírus, os mortos de covid-19 são colocados em caixão lacrado, não têm velório e saem de cena em enterro rápido. A drag das drags não terá a despedida glamourosa que tanto desejava e merecia.