CPI da Covid é um show de TV com mais barracos que o ‘BBB’
Discursos inflamados, xingamentos e até ameaça de prisão transformam os depoimentos na comissão em reality político
“Fogo no parquinho do Congresso”, diria Tiago Leifert. O depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, fez a transmissão da CPI (Comissão parlamentar de inquérito) da Covid — repercutida ao vivo por canais de notícias como GloboNews e CNN Brasil — lembrar os piores (ou seriam melhores?) momentos do ‘BBB21’.
Em certo momento, o senador Flavio Bolsonaro, filho Zero Dois do presidente, xingou o relator, senador Renan Calheiros. “Vagabundo”, disparou. “Vagabundo é você que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete”, devolveu o ex-presidente do Senado, referindo-se ao suposto esquema de ‘rachadinha’ na Assembleia Legislativa do Rio.
“Triiimmm, triiimmm”. A sirene da mesa foi tocada na tentativa de acalmar os ânimos. Parecia discussão de brothers e sisters após a formação do Paredão. Só faltou a voz de Boninho no sistema de áudio para passar um ‘pito’ e punir com perda de estalecas os senadores que ‘tombaram’ o decoro parlamentar. O clima ficou tão quente que o senador Izalci Lucas sugeriu que se proíba o porte de arma no plenário.
As audiências da CPI da Covid têm sido mais animadas do que a estreia morna da nova temporada de ‘No Limite’. Indiferentes às câmeras, senadores batem boca, criticam os depoentes e até soltam ironias. Na terça-feira (11), ao ouvir o senador Otto Alencar atacar o presidente da Rússia, o senador Omar Aziz, que preside a comissão, brincou: “O Putin vai mandar prender o senhor”.
Ainda durante a sabatina a Fábio Wajngarten, Renan Calheiros chegou a pedir a prisão do ex-todo-poderoso da comunicação de Bolsonaro. Outro momento tenso aconteceu na quarta-feira (5), quando o depoimento do ex-ministro Nelson Teich precisou ser interrompido por alguns minutos por conta de um bate-boca entre senadoras que reivindicavam maior participação da bancada feminina na CPI e senadores aliados do governo.
“Só não entendo porque tanto medo das vozes femininas aqui, Ciro”, contestou a senadora Eliziane Gama ao colega Ciro Nogueira. A confusão de vozes foi tamanha que lembrou o ruidoso ‘Jogo da Discórdia’ do ‘Big Brother’. O pacato Teich demonstrou espanto ao testemunhar a celeuma exibida em tempo real pela TV.
Quiprocós também acontecem nos bastidores. Na quarta, a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli foi até o plenário para contestar o estilo “muito pesado” do relator Renan Calheiros e defender melhor tratamento a Fábio Wajngarten. Assim como o reality show, a CPI da Covid tem ‘anjos’ e ‘monstros’, a depender do lado que se está.
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