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Dois romances interraciais polêmicos: um hétero, outro gay

‘O Outro Lado do Paraíso’ discute o racismo associado ao conflito de classes por meio de paixões consideradas proibidas

27 out 2017 - 11h07
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O cúmulo do paradoxo: um psiquiatra que não se aceita como é. Samuel (Eriberto Leão) rejeita a próxima homossexualidade. O médico tem medo de decepcionar a mãe tradicionalista e enfrentar o julgamento social.

Para não despertar suspeita entre amigos, ele vai namorar a enfermeira Suzy (Ellen Rocche). Mas terá dificuldade de transar com a bela moça. Afinal, trata-se de um relacionamento de fachada para ocultar sua verdadeira orientação sexual.

Samuel (Eriberto Leão) e Cido (Rafael Zulu): o médico e o motorista serão amantes secretos.
Samuel (Eriberto Leão) e Cido (Rafael Zulu): o médico e o motorista serão amantes secretos.
Foto: Estevam Avellar/TV Globo e Raquel Cunha/TV Globo

Samuel apresenta um comportamento típico de gay enrustido ou pessoa com conflito íntimo: dispara comentários e insultos homofóbicos na intenção de passar a imagem de machão acima de qualquer suspeita.

Mas, distante da vida fake, se jogará nos braços de um rústico motorista negro. É com Cido (Rafael Zulu) que o psiquiatra encontrará o prazer sexual inexistente no namoro com Suzy.

Cido é casado com a doméstica Irene (Luciana Fernandes) e, assim como Samuel, fará o possível para manter em segredo a vida dupla.

O caso amoroso do médico preconceituoso branco com um motorista pobre negro deve incendiar as redes sociais.

Raquel (Erika Januza) e Bruno (Caio Paduan): romance polêmico da doméstica com o filho dos patrões.
Raquel (Erika Januza) e Bruno (Caio Paduan): romance polêmico da doméstica com o filho dos patrões.
Foto: Raquel Cunha/TV Globo

No mesmo caldeirão: o racismo, a homofobia, o conflito de posições sociais diferentes e a hipocrisia de quem vive de aparências.

O autor Walcyr Carrasco achou que uma única polêmica seria pouco. Então providenciou outra trama com potencial igualmente bombástico.

A quilombola Raquel (Erika Januza) começou a trabalhar como empregada doméstica na casa da esnobe Nádia (Eliane Giardini).

Assim que vê a moça, Bruno (Caio Paduan), um dos filhos da patroa, já fica encantado: “você é muito bonita”. Pouco depois, na cozinha, os dois trocam olhares de interesse – é o prenúncio de um amor arrebatador.

Em conversa com o marido, o juiz Gustavo (Luis Mello), Nádia se mostra preocupada com a possibilidade de um envolvimento entre o herdeiro e a nova “serviçal”.

“Elas (as empregadas) estão aí para isso mesmo”, ironiza o magistrado. “O filho do patrão é o namoradinho pra elas.”

A velha situação de conflito social – o envolvimento do filho branco dos patrões com a empregada negra – será revisitada por meio do jovem casal de ‘O Outro Lado do Paraíso’.

Nas últimas décadas, milhões de brasileiros conquistaram ascensão econômica obrigando a sociedade a ser mais inclusiva, porém, o preconceito de classe permanece intacto, assim como um casal interracial ainda atrai olhares tanto de estranhamento quanto de reprovação, mesmo sendo este o País mais miscigenado do planeta.

A novela, considerada por muitos intelectuais um subproduto cultural, é hábil em suscitar a necessária discussão desses temas intrínsecos à diversidade e desigualdade brasileiras.

São polêmicas bem-vindas ao horário nobre da TV.

Veja também:

As cifras das consequências do preconceito nos EUA:
Fonte: Terra
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