Em alta no Ibope, JN 'bate' em Bolsonaro por 45 minutos
Principal telejornal da Globo usa metade do tempo de sua edição de quarta-feira para criticar o presidente
"Renata, tá cansada?", pergunta William Bonner, visivelmente estafado, à colega de bancada. "Estou", responde a âncora do JN. Chegava ao fim uma edição com 1 hora e 28 minutos de duração, uma das mais longas nos 50 anos do telejornal de maior audiência do País. Na quarta-feira (25), metade do tempo foi ocupada por matérias críticas ao conteúdo do pronunciamento de Jair Bolsonaro em cadeia de rádio e TV na noite anterior.
O clima entre o presidente da República e a Globo nunca foi bom, e piorou na semana passada, quando Bolsonaro disse que a emissora incentiva os panelaços contra ele e produz pânico na população com sua cobertura da pandemia de covid-19. A edição de ontem — tão desfavorável ao presidente — teve cara de desagravo do Grupo Globo, considerado por Bolsonaro seu grande "inimigo" na mídia.
O Jornal Nacional, que tem registrado médias acima de 35 pontos nos últimos dias, contestou as opiniões do presidente por meio do posicionamento de médicos, cientistas, economistas, advogados e várias associações de classe. Munição variada contra o homem mais poderoso do Planalto.
Só faltou o JN exibir, como fez em edições seguidas desde a semana passada, os panelaços ocorridos por volta das 8 da noite de ontem em algumas grandes cidades brasileiras. As críticas ao chefe do Executivo foram tantas que talvez tenha faltado espaço no roteiro para os protestos barulhentos.
Muitos telespectadores devem ter sentido falta do contraditório, ou seja, o que diz o outro lado. O Jornal Nacional não informou se tentou ouvir Bolsonaro para contrapor as inúmeras avaliações negativas contra ele.
Transmitido a partir das 22h00, o principal telejornal da GloboNews, o J10, ancorado por Heraldo Pereira, também gastou boa parte de suas duas horas de duração para mostrar a "indignação" contra as recentes declarações de Jair Bolsonaro em relação ao isolamento social aplicado pelos governadores nos estados. Todos os comentaristas políticos e econômicos da atração fizeram análises contundentes em oposição ao presidente.