Em artigo, Waack sugere que Globo foi "covarde" ao demiti-lo
Ex-âncora reafirma não ser racista e critica gritaria nas redes sociais contra mídia tradicional
William Waack finalmente rompeu o silêncio, ainda que tenha preferido se manifestar por escrito do que diante de uma câmera de TV.
O ex-apresentador do ‘Jornal da Globo’, fora do ar desde novembro e desligado da Globo em dezembro, após acordo financeiro com a emissora, escreveu artigo publicado na edição deste domingo (14) da Folha de S. Paulo.
Nele, analisa de maneira coerente o episódio que resultou no rompimento com o canal da família Marinho: a repercussão de um vídeo no qual Waack comenta jocosamente "isso é coisa de preto".
"Não sou racista, minha obra prova" foi o título escolhido para o texto. O âncora afirma: "Durante toda a minha vida, combati intolerância de qualquer tipo – racial, inclusive –, e minha vida profissional e pessoal é prova eloquente disso".
Autorizado por Gloria Maria, ele reproduziu a defesa feita pela jornalista numa rede social: "Convivi com o William a vida inteira, e ele não é racista. Aquilo foi piada de português".
O melhor do artigo não está no reconhecimento do erro e na reafirmação da existência da discriminação racial no Brasil.
A maior contribuição é a análise cirúrgica do embate entre hordas de intolerantes da internet e veículos de comunicação consagrados, como a Globo.
"Em todo o mundo, na era da revolução digital, as empresas da chamada 'mídia tradicional’ são permanentemente desafiadas por grupos organizados no interior das redes sociais", argumenta Waack. "Estes se mobilizam para contestar o papel até então inquestionável dos grupos de comunicação".
O apresentador critica as empresas que sucumbem a esse cerco no ambiente online. “Julgam que ceder à gritaria dos grupos organizados ajuda a proteger a própria imagem institucional”.
Em outro trecho, Waack deixa subentendido que a Globo foi covarde ao demiti-lo e ataca o patrulhamento ideológico.
“Por falta de visão estratégica ou covardia, ou ambas, (as empresas de mídia tradicional) tornam-se reféns das redes mobilizadas, parte delas alinhada com o que ‘donos’ de outras agendas políticas definem como ‘correto’.”
O ex-âncora do ‘JG’ assegura que o brasileiro está exausto do “radicalismo obtuso e primitivo” que contaminou o “ambiente virtual”.
Ao final, William Waack refuta novamente a acusação que custou-lhe um dos maiores postos do telejornalismo brasileiro.
“Tenho 48 anos de profissão. Não haverá gritaria organizada e oportunismo covarde capazes de mudar essa história: não sou racista. Tenho como prova a minha obra, os meus frutos".