Em edição histórica, Maju faz estreia impecável no 'JN'
Uma mulher negra ocupa pela primeira vez a bancada do principal telejornal da televisão brasileira
O Jornal Nacional foi lançado em 1969. Completará meio século no mês de setembro.
As mulheres passaram a ter presença fixa na bancada apenas a partir de 1992. E somente agora uma mulher negra chega ao lugar mais cobiçado do telejornalismo brasileiro.
Na noite de sábado, dia 16, Maria Júlia Coutinho, 40 anos, estreou no rodízio de apresentadores que cobrem férias e folgas dos titulares William Bonner e Renata Vasconcellos.
Ao lado dela, outro âncora eventual do JN, Rodrigo Bocardi, que comanda o Bom Dia São Paulo.
Maju teve um desempenho irretocável. Estava segura e concentrada. Soube disfarçar o inevitável nervosismo. Não cometeu nenhum erro.
Foi elogiada pelo colega Tiago Scheuer, que apresentou o boletim meteorológico da edição.
Após o fim do telejornal, enquanto os créditos subiam na tela, Bocardi e Maria Júlia caminharam para a redação, onde ela foi aplaudida por uma jornalista e abraçada por outra. Maju levantou o braço ao ar: o clássico sinal de vitória.
Muita gente, especialmente nas redes sociais, não compreende o imensurável simbolismo da presença de uma mulher negra na bancada do JN.
Acham que é exagero celebrar tal feito. Há até quem enxergue intenção política da Globo ao promover Maju.
Sim, é um ato político. Mas não no sentido partidário-ideológico. E sim como uma atitude contra o racismo enraizado na sociedade brasileira; essa discriminação resistente que envergonha o País mais miscigenado do planeta.
Os pardos e negros compõem 55% da população e quase 52% dos brasileiros são mulheres.
O perfil ‘mulher negra’ sempre teve representatividade mínima no telejornalismo – menor ainda nos postos mais altos, como a apresentação de telejornal de exibição nacional.
As que chegaram lá são ainda exceções, infelizmente. Por isso a relevância de destacar quando mais uma realiza essa conquista.
A ascensão de Maria Júlia coroa o desbravamento realizado por jornalistas como Gloria Maria (na Globo desde 1971), Dulcinéia Novaes (do Globo Repórter), Zileide Silva (repórter em Brasília e apresentadora eventual do Jornal Hoje) e Joyce Ribeiro (âncora do Jornal da Cultura).
Essas precursoras enfrentaram não apenas o racismo, mas também o machismo ao batalhar por espaço na TV.
A chegada de Maju ao JN deve-se à competência da jornalista, que iniciou a carreira na TV Cultura de São Paulo, onde chegou a estar na bancada ao lado do veterano Heródoto Barbeiro, hoje na Record News.
Além de transmitir credibilidade, Maria Júlia possui característica valiosa a quem trabalha diante das câmeras: carisma. Qualidade esta que é nata; não se aprende na faculdade de jornalismo.
O avanço da diversidade racial no telejornalismo vai gerar mais manchetes quando (possivelmente em breve) Maju Coutinho dividir a bancada do Jornal Nacional com Heraldo Pereira, o primeiro negro a apresentar o principal telejornal da Globo. Ele participa do rodízio do JN desde 2001.
Ver dois jornalistas negros nessa posição era algo inimaginável até pouco tempo atrás.