Entrevista com Carlos B ressalta valor da web e falha da TV
Canais como o da jornalista Leda Nagle exibem conversas reveladoras que perderam espaço nas grandes emissoras
A televisão aberta quase não dá espaço a entrevistas longas. Por quê? Teme-se a queda de audiência.
Na era do dinamismo das redes sociais, o telespectador demonstra incapacidade de acompanhar uma conversa com duração maior sem acionar o controle remoto para buscar algo diferente. Há uma impaciência patológica.
Os canais no YouTube passaram a explorar o filão do bate-papo olho no olho, com tempo suficiente para ir além do óbvio.
É o que faz Leda Nagle, experiente jornalista com passagens por Globo, Manchete, SBT e TV Brasil, agora dedicada a um canal próprio na principal plataforma de vídeos do planeta.
Após certa insistência, ela convenceu o vereador Carlos Bolsonaro, o filho número 2 do presidente Jair Bolsonaro, a quebrar o silêncio (e a resistência à imprensa) para gravar uma entrevista. O esforço valeu a pena.
Em pouco mais de 1 hora, Leda conseguiu desconstruir parte da figura polêmica do jovem político e influenciador digital.
Ideologias e radicalismos à parte, o que se vê é um homem de sorriso fácil e largo, apaixonado pelo que faz e emotivo.
Ao relembrar os momentos vividos ao lado do então candidato Bolsonaro, no carro que os levava ao hospital após o atentado a faca, Carlos se emocionou.
Os olhos ficaram avermelhados e tomados por lágrimas, a voz ganhou tom dramático, sentimentos autênticos afloraram.
Esse é o papel do bom jornalista e, especialmente, de quem quer ser um entrevistador competente: romper resistências e tirar a pessoa de sua zona de conforto. Mostrar algo inédito.
Na década de 1980, Leda Nagle fazia isso nas edições de sábado do Jornal Hoje, quando recebia artistas para um papo descontraído, e depois durante vários anos no Sem Censura (TVE/TV Brasil).
Desta vez, com destreza e delicadeza, e sem tomar partido, a veterana oferece a quem acessa seu canal uma entrevista reveladora com um dos principais expoentes da política brasileira – façanha que nenhuma emissora de TV conseguiu até hoje.
Ok, Carlos Bolsonaro não confia no telejornalismo brasileiro e provavelmente já recusou vários convites. Ele mesmo admite sua resistência. “Cada dia que passa vejo menos televisão.”
A missão de quem pretende noticiar é justamente ouvir personagens difíceis, levar ao público mais do que cabe nas matérias rápidas e superficiais dos telejornais.
Refém de seu próprio formato, o jornalismo da TV aberta tem sido superado nesse aspecto por quem, com recursos infinitamente menores, produz conteúdo para a internet.
Atrações como Mariana Godoy Entrevista (RedeTV!), Canal Livre (Band) e Como Será? (Globo) representam os poucos espaços na televisão aberta para se ouvir com calma quem tem coisas interessantes a dizer.
Essas atrações com qualidade acima da média deveriam inspirar a criação de muitas outras.
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