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Envelhecer é legal só no app; as famosas mais velhas sofrem

Discurso de empoderamento feminino não minimiza preconceito contra atrizes, apresentadoras e cantoras cobradas a ser eternamente jovens

17 jul 2019 - 12h13
(atualizado às 12h14)
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Xuxa já perdeu a conta de quantas vezes foi chamada de ‘velha’ nas redes sociais. Aos 56 anos, ela assume corajosamente as rugas e outras marcas do avanço do tempo. “Vocês vão me ver cada vez mais velha”, anunciou, reiterando a opção por não se submeter a uma cirurgia plástica nem aderir ao botox.

Não é fácil – principalmente para as mulheres – envelhecer diante das câmeras e sob o monitoramento implacável da mídia e do público. Cobra-se das artistas uma aparência imune ao processo natural de desgaste físico.

Xuxa, Juliana Paes e Angélica aderiram ao FaceApp: envelhecer diante dos olhos do público exige sólida estrutura emocional
Xuxa, Juliana Paes e Angélica aderiram ao FaceApp: envelhecer diante dos olhos do público exige sólida estrutura emocional
Foto: Reproduções/Instagram

Muitas sentem-se tão pressionadas (e com medo de perder o espaço conquistado) que desenvolvem obsessão: exageram nas ‘esticadas’ feitas com bisturi, nos retoques e preenchimentos. Tornam-se vítimas da própria imagem.

O mundo é mais generoso com os homens. Quando um ator, apresentador, cantor ou modelo envelhece, passa a ser rotulado como charmoso, galã veterano.

Já as mulheres nessas posições são vítimas do ageismo, a discriminação relacionada à idade. Contra elas disparam xingamentos, ironias, cobranças. Uma mistura de desrespeito e sadismo.

Madonna também se tornou alvo dessa segregação abominável. A rainha do pop está com 60 anos e se mantém tão ativa quanto no início da carreira na década de 1980.

Contudo, para muitas pessoas, ela deveria se recolher – bem longe dos holofotes – por conta da velhice. Essa opinião absurda foi registrada em vários posts na internet.

Em entrevistas recentes para divulgar o álbum Madame X, Madonna reclamou do tratamento desrespeitoso. “Envelhecer quase parece um crime.”

A atriz Luíza Tomé, 58 anos, foi ofendida por conta da idade. “Postei uma foto e um ser sem rosto me chamou de velha”, contou. “Só amadurece quem está vivo.”

Esse patrulhamento baseado na intolerância atinge famosas cada vez mais jovens.

Recentemente, a chef Paola Carosella, 46 anos, jurada do MasterChef Brasil, recebeu no Instagram a sugestão para implantar próteses de silicone para reverter os “seios caídos”. Espirituosa e autoconfiante, respondeu com classe: “Eu acho que eles caíram até que bem bonitos”.

Na segunda-feira (15), ao surgir na première de O Rei Leão em Londres, Beyoncé, 37 anos, sofreu ataques gordofóbicos nas redes sociais. Os intolerantes cobram da cantora a mesma silhueta de antes de suas duas gestações.

No Brasil, a ‘modinha’ do aplicativo que envelhece o rosto é engraçada até a página 2.

Todo mundo se diverte com a própria projeção como idoso, porém, na prática, a maioria abomina a ideia de ficar realmente com aquele aspecto físico – e muitos, no dia a dia, não agem com o mesmo bom humor no trato com velhos de verdade, sejam famosos ou anônimos.

A TV e a publicidade estimulam esse culto à juventude forçada. Estão na contramão da realidade: o País envelhece em ritmo acelerado. Hoje, são 30 milhões de idosos brasileiros. Em 2042, esse número terá dobrado.

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