Fim da Contigo! diz muito sobre como a internet mudou a TV
Redes sociais das celebridades se tornaram concorrentes das revistas e dos programas dedicados a revelar os bastidores da fama
Depois de 55 anos, chega ao fim a edição em papel da Contigo!, a publicação que, em outros tempos, reinou absoluta na cobertura da programação da TV, dos bastidores das emissoras e da intimidade dos famosos.
Criada pela Editora Abril, foi vendida em 2015 para a Editora Caras. Nos últimos anos, sua tiragem despencou, assim como a da maioria das revistas brasileiras.
O título continuará apenas no ambiente digital, como portal de notícias e vídeos.
Quem trabalhou na Contigo! coleciona histórias incríveis. Uma delas se refere ao ‘contrabando’ de roteiros de novelas da Globo.
Hoje, o canal divulga à imprensa e em seus próprios sites o que acontecerá dia a dia em seus folhetins. Não era assim antes do crescimento da internet.
Para conseguir ‘furos’ que rendessem boas capas e contar a seus leitores as próximas emoções nas novelas, a equipe da revista mantinha um esquema com um funcionário da Globo que tirava cópias dos capítulos – e era recompensado pela exclusividade. Todo mundo nas redações de São Paulo e do Rio sabia da estratégia.
O desfecho melancólico de Contigo! tem a ver não apenas com a queda das vendas em bancas. Grandes anunciantes redirecionaram verba publicitária dos veículos impressos para sites e redes sociais.
Aliás, plataformas como o Instagram se tornaram concorrentes das revistas sobre TV e famosos, e de atrações especializadas em comentar esse universo.
Artistas e subcelebridades informam eles mesmos o que fazem na vida privada, numa rapidez inalcançável para as burocráticas publicações em papel e os programas de TV com hora marcada.
Criada em 1998 pela Editora Símbolo para ser rival da Contigo!, a TiTiTi também sofreu com essa transformação no mercado editorial e no hábito de quem era apenas leitor e, com o tempo, passou a ser predominantemente usuário de internet. O título foi ‘descontinuado’ – eufemismo usado no lugar de encerrado – em agosto deste ano.
Assim como a web afetou revistas e jornais, mexeu também com a televisão. Até a Globo, que tentou resistir à interatividade online, se rendeu à realidade imutável.
A emissora passou a exibir produções no GloboPlay antes do lançamento na TV. Possui portais que promovem seu conteúdo e os artistas de seu elenco, e usa as redes sociais na tentativa de manter os antigos telespectadores e conquistar a nova geração.
O mundo nunca mais foi o mesmo depois da popularização da internet. E essa revolução imposta à mídia está longe de acabar.
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