Foto com suposta pose gay usada para desmoralizar Frias
Ex-galã da Globo sofre bullying após ser confirmado como novo secretário especial de Cultura do governo Bolsonaro
Um homem de bruços com a região do cóccix à mostra gera instantânea interpretação sexual. Enxergam um homossexual na posição passiva. O título 'O novo homem do presidente', usado em matéria da Folha de S. Paulo, dá à foto aspecto ainda mais pejorativo.
Bastou o ator Mario Frias ser oficializado no Diário Oficial como novo secretário especial de Cultura, em substituição à ex-'namoradinha' do presidente Jair Bolsonaro, Regina Duarte, para fotos sensuais do artista serem usadas por veículos de imprensa e nas redes sociais com a intenção de debochar dele.
Militantes LGBTQI+ protestaram contra a maneira como a foto apareceu na matéria principal do caderno Ilustrada da Folha, na edição de sábado (20). A jornalista Milly Lacombe, autodenominada "sapatão", se manifestou no Twitter.
"A capa homofóbica, além de infantil, desvia do que realmente importa a respeito dessa pessoa. Aí quando a trans é assassinada na periferia a esquerda toda chora. Mas ações como essa capa incentivam a LGBTfobia. Que esquerda é essa que ri da homofobia?", escreveu.
Por mais tentador que seja ironizar um ator que se ofereceu para servir a Bolsonaro de todos os jeitos imagináveis, há de se considerar o preconceito embutido na interpretação jocosa da foto.
Querer colar a imagem de gay — e sexualmente passivo, posição cercada de clichês insultantes — a um homem declaradamente hétero é uma atitude clássica de quem vê a homossexualidade como ofensa e um meio para humilhar alguém.
Mario Frias desperta reservas por ser bonito (o velho preconceito contra galãs), ex-'mocinho' de novela juvenil, inexperiente em gestão pública e pouco conectado às demandas da classe artística predominantemente de esquerda.
Ele deve ser cobrado por sua performance no comando da política do setor, e não por atributos físicos ou pela qualidade de suas atuações na TV. Muito menos por ter posado para fotos com apelo sexual.
Estamos em 2020 e, inacreditavelmente, homens ainda são induzidos a exibir a (falsa) imagem de macho alpha e achincalhados quando fogem desse estereótipo tóxico atrelado ao conservadorismo.