Globo acelera demissões para tentar reduzir prejuízo em 2021
Aumento de custos, perda de receita publicitária e impacto da pandemia obrigam a emissora a dispensar veteranos do jornalismo e das novelas
A era de ouro da TV Globo passou. No auge, teve quase 2 mil artistas com contrato fixo. Alguns atores do primeiro time ficavam até 2 anos sem fazer novela e, mesmo assim, recebiam alto salário todo mês. Repórteres das antigas eram bem pagos para gravar matérias apenas 1 ou 2 dias na semana. Não havia economia nas produções: gastava-se o que fosse necessário para fazer reportagens e teledramaturgia, a fim de garantir o caro ‘padrão Globo de qualidade’.
Esse tempo glorioso acabou. A realidade de um País com economia periclitante se impôs. Apelidada Vênus Platinada, a emissora carioca agora está um pouco fosca em razão das contas no vermelho. No primeiro semestre deste ano, o prejuízo foi de R$ 114 milhões, apesar da receita registrada de R$ 6,451 bilhões. Entra muito dinheiro, porém, sai no mesmo volume. Em 2020, o Grupo Globo teve faturamento total de R$ 12,5 bilhões, 11% menor do que no ano anterior. O lucro despencou 77%, de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões.
Nos últimos tempos, a TV Globo promoveu vários cortes. No ano passado, conseguiu economizar R$ 1,1 bilhão em despesas. Mesmo assim, precisou continuar a onda de demissões, reduzir verbas de produção e não renovar o contrato de apresentadores e atores. Abriu mão de medalhões do elenco, como Antônio Fagundes, Vera Fischer, Malu Mader, Gloria Menezes, Reynaldo Gianecchi, Stênio Garcia, Angélica e Lázaro Ramos – todos com rendimento mensal acima de R$ 100 mil.
Recentemente, também optou não continuar com vínculo longo com a diretora de núcleo Denise Saraceni (responsável por sucessos como ‘Cheias de Charme’ e ‘Da Cor do Pecado’) e alguns dos mais experientes repórteres do canal, entre eles Alberto Gaspar, Ari Peixoto e Roberto Paiva. O correspondente em Washington, Luís Fernando Silva Pinto, foi cortado, entre outros nomes fortes do jornalismo da emissora.
A sequência impressionante de demissões e contratos sem renovação vai continuar. O clima nos estúdios e nas redações da Globo é de apreensão. Há até uma brincadeira tensa usando o título de uma das novelas mais bem-sucedidas do canal. “Quem será a próxima vítima?”, perguntam entre si. A direção da TV segue um padrão: quem recebe salário mais alto encabeça a lista de possíveis dispensas. O objetivo é evidente: reduzir a folha de pagamento.
Em 2020, o faturamento publicitário da Globo caiu 17%. Esse índice acendeu a lugar amarela, já que as verbas de anunciantes representam 60% da receita total do grupo. A emissora sentiu o impacto da pandemia de covid-19 ao ver campanhas de clientes serem canceladas, adiadas ou reduzidas. A alta na cotação do dólar também prejudicou a empresa: sua dívida atrelada à moeda americana saltou de R$ 3,7 bilhões para R$ 5,4 bilhões entre 2019 e o final de 2020.
Hoje, a força-tarefa no alto escalão trabalha para que o canal feche o ano no azul. Mesmo com perda milionária nos primeiros seis meses de 2021, a expectativa é otimista. Ainda que enfrente percalços, a Globo continua a ser uma das marcas mais valiosas do País. No ranking ‘Brandz Brasil’ do ano passado, ocupava o 6º lugar, avaliada em 3,2 bilhões de dólares, o equivalente a R$ 17,6 bilhões.