Globo assume postura cínica em relação à intolerância no BBB
Emissora finge que nada grave acontece enquanto o reality show afunda na mediocridade sob a mira da polícia
Que o Big Brother Brasil é entretenimento ruim, todo mundo já sabe. Mas esta 19ª edição conseguiu ser ainda pior do que a média.
A casa virou um mausoléu de mortos-vivos. Quase nada acontece, ninguém joga.
A repercussão limita-se às declarações tolas ou preconceituosas de alguns participantes.
Paula se destacou por falas consideradas racistas – e uma vilania rasa, sem graça.
Maycon gerou revolta ao depreciar cultos afro-brasileiros, referir-se de maneira pejorativa a dois competidores negros e fanfarronar de tortura praticada contra gatos e zoofilia com uma cabra.
Para a direção do BBB, nada a corrigir. A Globo caiu na real somente depois de a polícia iniciar procedimentos para averiguar possíveis crimes de racismo, intolerância religiosa e maus-tratos aos animais.
Na quinta-feira (14), com inexplicável atraso, Tiago Leifert se manifestou. “Alguns comentários feitos dentro da casa ofenderam algumas pessoas”, disse, num discurso pouco incisivo.
Não foram poucos os telespectadores – e autoridades – incomodados e ofendidos. A emissora insiste em não enxergar o problema.
“Nós, da TV Globo, acreditamos que o diálogo é o melhor caminho. Há dois anos temos uma campanha que diz que tudo começa pelo respeito. É nisto que a gente acredita”, teorizou Leifert.
Por enquanto não há diálogo algum. Os participantes envolvidos na polêmica não foram chamados para uma conversa com o comando do programa nem orientados diante dos olhos do telespectador.
Pelo contrário. “Fale o que você quiser. Você está aí para jogar”, disse o apresentador para a verborrágica Paula. Um incentivo ao disparate.
A atual edição do BBB, que já foi o melhor reality show da televisão brasileira, mostra que a direção do programa desaprendeu a fazer a seleção de participantes, é incapaz de usar os infinitos recursos disponíveis para dinamizar a atração e prefere ser omissa diante da oportunidade de conscientizar a população contra preconceitos.
Não se trata de exigir o politicamente correto, e sim evitar que o poder de influência da TV seja usado para disseminar ignorância.
O tal slogan “Tudo começa pelo respeito” mais parece propaganda enganosa.
Após uma boa edição em 2018, o Big Brother Brasil agora chafurda na mediocridade – e leva junto a imagem da Globo.
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