Globo escala novos autores após veteranos fugirem das 21h
Emissora vai lançar novelas escritas por dramaturgas testadas com sucesso em outros horários
A Globo decidiu renovar, finalmente. O canal vai promover a estreia de dois novos autores em sua principal faixa de teledramaturgia. Ou melhor, duas autoras.
A baiana Manuela Dias, de 42 anos, assina Amor de Mãe, folhetim que substituirá A Dona do Pedaço a partir de novembro.
Graduada em Jornalismo e Cinema, ela trabalha na Globo há 20 anos. Colaborou com obras importantes como Cordel Encantado (2011) e Joia Rara (2013-2014), ambas da dupla Thelma Guedes e Duca Rachid.
Manuela destacou-se como autora principal com a elogiada e premiada minissérie Justiça, exibida em 2016 às 22h.
Ambientada inicialmente no Nordeste, Amor de Mãe gira em torno do drama da sofrida Lurdes, que teve o filho raptado e vendido.
O papel marca o retorno de Regina Casé às novelas – aos 65 anos, ela será pela primeira vez protagonista, e justamente de um novelão das 9.
Depois de Manuela Dias, será a vez de Lícia Manzo assumir o espaço mais prestigioso do horário nobre da Globo. O título provisório da produção é Em Seu Lugar.
A autora carioca, de 54 anos, colaborou com Malhação (2003-2004) e Três Irmãs (2008). A primeira titularidade em novela aconteceu com A Vida da Gente, em 2011. Escreveu também Sete Vidas (2015), uma das melhores dramaturgias das 18h dessa década.
Sabe-se pouco a respeito do enredo do futuro folhetim. Cauã Reymond vai interpretar gêmeos. O elenco terá ainda Andréa Beltrão, Marieta Severo, Andréia Horta, Daniel Dantas, entre outros atores.
A Globo promoveu Manuela Dias e Lícia Manzo com base no talento, na qualidade artística e nos resultados de audiência entregues pelas duas. Outro fator foi determinante: a decisão de alguns atores veteranos de não criar mais para o horário das 21h.
Manoel Carlos, 86 anos, enfrentou duas produções problemáticas – Viver a Vida (2009) e Em Família (2014) – e manifestou a vontade de escrever somente minisséries.
Outro ‘medalhão’ da teledramaturgia, Gilberto Braga, 73 anos, ficou decepcionado com os ataques ideológicos contra Babilônia, fiasco no Ibope em 2015.
Sua próxima novela será às 18h, Feira das Vaidades, prevista para o ano que vem. Foi nessa faixa que Braga emplacou a mais famosa novela brasileira de todos os tempos, A Escrava Isaura, de 1976.
Conhecida por bem-sucedidas séries e novelas das 7 (A Casa das Sete Mulheres, Dercy de Verdade, TiTiTi, Sangue Bom), Maria Adelaide Amaral, 77 anos, estreou às 21h com A Lei do Amor (2016-2017).
O folhetim soturno foi bastante criticado e teve audiência baixa. A autora disse não querer retornar ao horário. Ela acaba de escrever o roteiro de O Selvagem da Ópera, série inspirada na vida e obra do compositor Carlos Gomes, no ar em 2020.
A última estreia de autor na faixa das 9 da noite na Globo ocorreu em maio de 2013, quando Walcyr Carrasco, 67 anos, lançou Amor à Vida. A produção conquistou bons índices de audiência.
Atualmente, os autores que escrevem exclusivamente para a faixa principal são Aguinaldo Silva, 76 (O Sétimo Guardião, Império), Gloria Perez, 71 (A Força do Querer, Salve Jorge), João Emanuel Carneiro, 49 (Segundo Sol, A Regra do Jogo) e Walcyr Carrasco, de A Dona do Pedaço.
Benedito Ruy Barbosa, 88 anos (Velho Chico, Terra Nostra) tem aparecido no horário com menos regularidade. Silvio de Abreu, 76 (Passione, Belíssima) deixou de escrever novelas para se tornar diretor de Dramaturgia Diária da Globo.
A chegada de Manuela Dias e Lícia Manzo a esse celebrado grupo de autores traz um sopro de novidade às 21h.
Espera-se novo estilo de tramas, ainda que nenhum dramaturgo – por mais criativo que seja – possa fugir de alguns clichês inevitáveis a fim de segurar a atenção do público.
Em tempo: as citadas Thelma Guedes, 57 anos, e Duca Rachid, 57, da recém-encerrada Órfãos da Terra, estão há tempos na fila para debutar no mais importante horário de novelas da Globo. Tiveram uma sinopse aprovada, porém os primeiros capítulos foram rejeitados. Tomara que, em breve, recebam a merecida ascensão.